CADEIRA 2

ACADÊMICOSQUADRO ACADÊMICO

Carlos Von Koseritz

Karl Julius Christian Adalbert Heirich Ferdinand Von Koseritz, no Brasil, assinava-se Carlos Von Koseritz. Nasceu em Dassau, Alemanha, a 3 de fevereiro de 1834 e faleceu em Porto Alegre, em 29 de maio de 1890. Koseritz marcou a produção cultural do Rio Grande do Sul com sua contribuição de cientista, orador, jornalista, historiador, teatrólogo, romancista e político.

Nos tempos conturbados da campanha de unificação da Alemanha, pelo Estado da Prússia, teve que se refugiar num navio que transportava soldados mercenários, chamados de Brummers, destinados a formar a Legião Alemã para lugar no Exército brasileiro contra o ditador argentino Manuel de Rosas. O navio chegou ao Rio de Janeiro em 1851 e depois seguiu para o porto de Rio Grande, onde Koseritz desembarcou. Transferiu-se para Pelotas, trabalhando como cozinheiro, pintor e guarda-livros, sucessivamente.

Contratado como guarda-livros e professor lecionou no colégio Ateneu Rio-grandense. Publicou em 1856 o livro Resumo de História Universal, que servia de manual para suas aulas. Casou no mesmo ano com Zeferina Maria de Vasconcelos. Trabalhou como jornalista no Brado do Sul (1858) e nos jornais O Povo (1864 e o Eco do Sul (1864), os dois últimos da cidade de Rio Grande.

Sua bibliografia é vasta se considerarmos os artigos e as crônicas publicados em jornais e revistas. Inspirando-se nos dramas românticos europeus escreveu Nini, representado em 1858 no Teatro Sete de Abril, de Pelotas. Também encenou o drama histórico Inês, com ação na Bahia de 1645. Seu drama trágico Clara tem como ação o Rio Grande do Sul.

Koseritz publicou em 1865 na Tipografia do Farol Gabrielense, o opúsculo A Campanha da Província do Rio Grande do Sul, com 24 páginas em papel jornal. Não há nome do autor, Koseritz apresenta-se como tradutor. Considero a borá como sua, pois há semelhanças com o texto No tempo do Megathério, publicado em 1883. Abeillard Barreto registrou a publicação Campagna der brasilianischen Provinz Rio Grande do Sul, in Globus, Hildgurghausen, 1863, como de autoria de Koseritz.

Envolvendo-se em polêmicas locais, foi obrigado a mudar sua residência para Porto Alegre, onde trabalhou na redação do Deutsche Zeitung e da Gazeta de Porto Alegre, onde publicou coletânea de quadrinhas de nosso folclore. Exerceu a função de redator do periódico Deutsche Volksblatt, em 1871. Em 1876 fundou o jornal A Acácia, órgão da maçonaria que atacava a Companhia de Jesus. Fundou em 1881 o Koseritz Deutsche Zeitung. Em 1886 Koseritz tornou-se redator do jornal A Reforma, órgão oficial do Partido Liberal e que desencadeou a campanha abolicionista, embora apoiando o sistema monarquista. Levado por seu germanismo, Koseritz apoiou a Prússia, divergindo de Gaspar Silveira Martins, senador pelo Partido Liberal, que defendia a participação da França durante a guerra franco-prussiana.

No ensaio econômico Resumo da Economia Nacional, publicado em 1870, abordou vários temas da conjuntura brasileira, mostrando que a monarquia se esfacelava por causa da incapacidade dos políticos que agiam como se estivessem num circo de cavalinhos, de lonas rotas e que não conseguiam mais aplausos por seus malabarismos. Comentou o erro de industriais que montaram uma fábrica de chapéus no Rio Grande do Sul, com matéria prima importada, desprezando o material da província. Vaticinou que, se o Brasil continuasse pedindo empréstimos no exterior, a miséria tomaria conta de nosso país. Conforme explicação do próprio Koseritz o livro é uma compilação das obras de economia de Adam Smith, Bastiat, Carey Roscher, J. B. Say e dos dois Stuart Mill, sendo seu mestre e guia principal, Maximiliano Wirth.

A pequena novela dramática Laura, publicada em 1872, tem como tema o casamento contra a vontade de uma donzela, para salvar o pai da falência. No mesmo ano publicou Roma perante o século, obra de cunho maçônico que critica a infalibilidade do Papa, apresentado argumentos com fatos históricos que nem sempre estão de acordo com o contexto da época.

O romance A donzela de Veneza, editado em 1874, possui trama inconsistente e personagens inverossímeis. No ano seguinte veio à luz a novela A véspera da batalha.

A Sociedade Literária de Culto às Letras, fundada por intelectuais positivistas com o objetivo de divulgar a doutrina de Augusto Comte, sofreu duras críticas de Koseritz, que contrapunha uma cultura teuto-brasileira ao francesismo que invadia o Brasil.

Monarquista, Carlos Von Koseritz conseguiu se eleger deputado provincial pelo Partido Liberal em três legislaturas, de 1882 a 1889.

Koseritz defendeu a germanidade, atacando os francófilos, abrindo polêmicas com Júlio Prates de Castilhos no jornal A Gazeta de Porto Alegre, de 1879 a 1884, pois considerava o positivismo como uma filosofia errada por ser antropocêntrica. Maçom militante criticou violentamente o bispo Dom Sebastião Dias Laranjeira na luta do prelado contra a Assembléia Legislativa. Koseritz propugnava pela liberdade religiosa, mas professando o evolucionismo de Charles Darwin, atacou o fundamentalismo católico e luterano.

Em 1883 viajou ao Rio de Janeiro de onde mandou uma série de crônicas com impressões desfavoráveis sobre a capital, com seu calor, perigo de febre amarela, ruas estreitas por onde desfilava uma sociedade frívola, com um clube em cada esquina onde se discutia política e se falava da vida alheia. Defendendo a idéia de federação, Koseritz censurou o sistema de centralização na capital do Império, onde se dissipavam colossais massas de dinheiro em obras e edifícios públicos luxuosos e grandiosos, enquanto nas províncias que geravam riquezas, cada vintém era virado de todos os lados, antes que alguém se decidisse a largá-lo.

O cronista não poupou sarcasmo ao descrever a chegada da Corte ao Senado para ouvir a leitura da fala do trono proferida pelo Imperador Dom Pedro II. As carruagens do século passado gastas e desengonçadas; as librés verdes desbotadas dos escravos e cocheiros; os familiares da corte vestidos em uniformes e com chapéus tricórnios, iguais aos usados pelos cocheiros; o envelhecimento da Princesa Isabel que desceu da carruagem sem aplausos do povo; a chegada de D. Pedro II com manto de penas de papo de tucano, sapatos de fivelas, meias de seda, calções, casaca de veludo coberta de condecorações, recebidos pelos populares quietos, sem um viva; tudo isso, segundo expressão de Koseritz, transformou a Corte num desfile carnavalesco e algumas das figuras do Império pareciam macacos de circo de cavalinhos. As crônicas foram publicadas em alemão no Koseritz Deutsche Zeitung, em forma de diário de viagem. Em 1941 a Livraria Martins Editora, de São Paulo, publicou em formato de livro com o título Imagens do Brasil.

O Império não superou a crise criada pela campanha abolicionista, sufocou as aspirações de autonomia das províncias e quando desconsiderou o Exército, bastou um movimento de tropa para desmoronar. Koseritz era um líder nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Seus artigos eram lidos na Corte e muitos o consideravam um sábio era, portanto um elemento perigoso aos jacobinos republicanos, pois acalentava idéias monárquicas, com posição política anticlerical e antipositivista.

Por criticar a ditadura científica da doutrina de Júlio Prates de Castilhos, inspirada no positivismo de Augusto Comte, o liberal Carlos Von Koseritz teve que se refugiar na chácara de José Vicente da Silva Teles, em Guaíba, em maio de 1890. O governo republicano do Rio Grande do Sul ordenou que 12 policiais armados vigiassem de perto o adversário liberal. Diversas vezes Koseritz ficou sob mira de uma arma, sofrendo ameaças. Graças à intervenção de amigos, conseguiu retornar à sua casa, na Rua Duque de Caxias, nº 209, em Porto Alegre, onde na noite de 29 para 30 de maio de 1890 escreveu uma longa carta historiando a perseguição política que sofria. Ao terminá-la, faleceu.

O jornal A Federação, órgão oficial do Partido Republicano, publicou artigo de crítica violenta contra Koseritz. Sua filha, Carolina Von Koseritz, escreveu um repto aos detratores políticos nos jornais da capital em português e nos de idioma alemão. Os políticos republicanos silenciaram apenas Joaquim Francisco de Assis Brasil publicou uma crônica elogiando Koseritz.

Assim Koseritz caiu no esquecimento, ficou apenas como nome de Rua de Porto Alegre e como patrono da cadeira número dois da Academia Rio-Grandense de Letras, ocupada pelo acadêmico Moacyr Flores.

Bibliografia

CARNEIRO, José Fernando. Karl Von Koseritz. Porto Alegre: IEL, 1959.
CÉSAR, Guilhermino. Carlos Von Koseritz. In Fundamentos da Cultura Rio-grandense. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia, UFRGS, 1958, p. 173-191.
CÉSAR, Guilhermino. Koseritz e o naturalismo. Revista Órganon, Porto Alegre: UFRGS, vol. 12, nº 12m 1967, p. 89-97
FLORES, Hilda Agnes Hübner. Os Brummers. Porto Alegre: EST, 1997.
FLORES, Hilda Agnes Hübner. Carolina Von Koseritz. Revista de Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre: PUCRS, vol. 9, nº 1-2, 1983, p. 100-110.
KOSERITZ, Carlos Von. Imagens do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Martins/USP, 1972.
OBERACKER JÚNIOR, Carlos H. Carlos Von Koseritz. São Paulo: Anhembi, 1961.

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Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 4

Gaspar Silveira Martins

Gaspar Silveira Martins nasceu em Aceguá, município de Bagé, em 5 de agosto de 1835, filho de Carlos Silveira de Moraes Ramos e Maria Joaquina das Dores Martins. Foi alfabetizado em Cerro Largo no Uruguai e, já no Brasil, freqüentou em Pelotas o curso de latim do Prof. Antônio José Domingues. No Rio de Janeiro, cursou Humanidades com o Prof. Vitorio da Costa. Em Recife foi aprovado no curso de Direito, mas acabou concluindo o mesmo no Rio de Janeiro, onde, após a formatura, assumiu o cargo de juiz municipal. Foi deputado provincial no Rio Grande do Sul e Senador pelo mesmo Estado em 1880....

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