CADEIRA 19

ACADÊMICOS

João Cezimbra Jacques

(por José Francelino de Araújo)

O pioneiro João Cezimbra Jacques teve sua vida assinalada por dois pontos fundamentais: o infortúnio e o pioneiris-mo. Seu pai, ainda moço, morreu na guerra do Paraguai, onde também servia João Cezimbra Jacques, com apenas 18 anos de idade, engajado no 2o Regimento da Cavalaria. Sua mãe, esposa e filhos faleceram jovens.

Nasceu na rua do Acampamento, em Santa Maria, no dia 13 de novembro de 1849 e morreu no Rio de Janeiro, aos 73 anos de idade. Seu pioneirismo se revela por inúmeras iniciativas: como escritor abordou assuntos até então pouco explorados ou inéditos. Por sua inspiração e incansável labuta foi criado o Grêmio Gaúcho, primeiro núcleo para a cultura das tradições destes pampas; foi um dos fundadores do Partido Republicano no Rio Grande de Sul; adepto do Positivismo, escreveu sobre o problema social e integrou o elenco de intelectuais de nossa primeira Academia de Letras do Rio Grande do Sul.

Segundo Hélio Moro Mariante, in Assuntos do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1912, Cezimbra Jacques possuía "estatura mediana, cabelos lisos, maçãs do rosto salientes, grandes orelhas, olhos levemente amendoados, fronte ampla e bastos bigodes, era bem o lipo representativo do gaúcho da campanha".

Sinval Saldanha, amigo íntimo do patrono, examinando o tipo e personalidade de Cezimbra Jacques, escreveu no Correio do Povo, em março de 1926: "indiático, pouco barba, a sua fisionomia tinha traços do silvícola nacional.

Talvez, mesmo, o sangue desses antepassados corresse nas suas Veias."

Homem de um dinamismo incomum, acatado e respeitado na sociedade civil e militar. Foi professor das escolas militares de Rio Pardo e Porto Alegre. Falava francês, guarani e caigangue e era dono de prodigiosa memória.

Excelente tocador de viola, conhecedor das danças antigas, cujas características coreográficas, música e letra recolheu nas suas andanças pelos pagos.

Era neto, pelo ramo paterno, do catarinense João Guilherme Ja-cques Filho e da riopardense Feliciana Maria de Souza e, pelo materno, do baiano João Antônio da Silva Cezimbra e Ana Francisca Cezimbra, de Cachoeira do Sul.

João Cezimbra Jacques era militar e escritor regionalista, considerado mestre do gênero. Em seu Dicionário dos Intelectuais Rio Grandense, Luis Corrêa de Mello disse que seu estilo era dúctil e vigoroso.

O escritor, compositor e folclorista Barbosa Lessa, em artigo publicado em Zero Hora de 15 de maio de 1999, sobre o Regionalis-mo-expansão da nova sabedoria, disse: "A grande novidade trazida por João Cezimbra Jacques, porém, residia no expressivo vocabulário guarani-português colhido junto às próprias tribos remanescente na região - e num glossário capaz de introduzir qualquer imigrante no domínio das mais belas expressões regionais".

Continua Barbosa Lessa:

"Pela primeira vez apareciam as letras de forma, prontinhas para serem lidas e repetidas; palavras como 'bagual', 'bombachas', 'chi-marrão', 'churrasquear', 'guaiaca', 'guaco', 'matambre', 'matungo', 'piguancha', 'pingo' e outras".

 Em 1883 Cezimbra Jacques lançou o Sertanejo Rio-Grandense, obra acrescida de copioso vocabulário sobre a fauna da região. Escreveu dois pequenos ensaios: o Parlamentarismo e o Presidencialismo Puro, ambos em 1918. Integrou o grupo de intelectuais que fundou a Academia de Letras do Rio Grande do Sul, tendo ocupado a cadeira de Crítica e História.

A obra de João Cezimbra Jacques sobre o Rio Grande do Sul é fonte primeva para quem deseja consultar, ou se aprimorar, sobre a história do pampa sul-brasileiro.

Em seu Perfil de um Pioneiro, sobre Cezimbra Jacques, acrescenta Hélio Moro Mariante: "Embora não fosse senhor de excepcional cultura, ressentindo-se da falta de aprimorada formação humanístico-científica, Cezimbra Jacques supre tal deficiência com talento".

O patrono da cadeira n°19 era homem simples e confessou isso ao referir-se em sua obra Assuntos do Rio grande do Sul, da seguinte maneira: "Encarando pelo lado da forma, somos o primeiro a reconhecer o nenhum mérito deste trabalho. Cumpre ainda dizer que não dispomos de nenhuma aptidão literária, apresentando despretensiosamente de utilidade que possa oferecer..."

Cezimbra Jacques foi um apaixonado pelos pampas, por suas eoxilhas e pelos rincões mais distantes do Rio Grande do Sul. Profundo admirador da geografia e conhecedor dos costumes sul-rio-grandenses.

Com a instalação da República Brasileira Cezimbra Jacques retornou ao Exercito em 1890. Serviu novamente em São Borja e inspecionou obras militares no Estado do Rio Grande do Sul. Em 1891 recebeu a promoção de capitão. Logo em seguida, motivado pela moléstia, recolheu-se ao hospital militar em Porto Alegre. Nesse mesmo ano casou-se com Júlia Cidade, natural de Porto Alegre. Ele estava com 42 anos de idade e ela com 21. Tiveram 3 filhos: Alberto, nascido em 1891, Bolívar, nascido em 1893, e Albertina, nascida em 1894. Infelizmente sua esposa veio a falecer prematuramente em 1897. Junto com seus filhos ele também ficou órfão de afeto.

Durante a Revolta Federalista de 1893 Cezimbra Jacques posicionou-se contra os revolucionários. Apesar de doente apresentou-se e lutou, pelo lado legalista, o positivismo era telúrico; nascera com a sua formação adulta. Por isso apoiou os governos de Floriano Peixoto e de Júlio de Castilhos.

Sua carreira militar teve continuidade. Em 1895 tornou-se ins-trutor da Escola Militar de Porto Alegre. Dois anos depois foi aprovado em todos os testes finais na sua arma escolhida, a Cavalaria. Mais tarde, por cinco anos, tornou-se instrutor da Escola Prática do I ixército em Rio Pardo. Recebeu inúmeros elogios pelo seu trabalho. Em 1901 foi reformado do Exército. Passou para o posto de Major depois de 36 anos dedicados à vida militar, à honra e aos valores patrióticos. Sua organização, competência e criatividade o destacaram nas artes militares e no relacionamento humano. Inventor, escritor, historiador, sociólogo, lingüista e biógrafo foram faces, desta personalidade vibrante, que o acompanharam durante sua vida. Ousadia, caráter firme e desprendimento são valores insofismáveis de sua existência.

A experiência militar lhe fortaleceu o profundo respeito à disciplina, à organização, e à criatividade. O contato com pensadores militares no Rio de Janeiro auferiu-lhe o gosto pela reflexão filosófica, pelo reconhecimento de valores sociais e pela política. Somaram-se tradições avoengas quanto à ordem e ao amor pela pátria. Somaram-se, ainda mais, a experiência de vida paterna voltada para a vida urbana.

Adotou a filosofia de Comte e abraçou a causa republicana desde jovem. Foi republicano histórico, pois estava dentre os fundadores do PRR (Partido Republicano Rio-Grandense) em 1882. Até sua morte nunca se afastou do positivismo comtiano. A organização, o moralismo e a paixão pelo progresso levaram-no a se aprofundar cada vez mais nos estudos e práticas positivistas.

Dentro do Exército a hierarquia superior lhe penalizou por Ter sido republicano. Em 1888 foi demitido, como instrutor, da Escola Militar de Porto Alegre. O motivo era sua ideologia republicana Ele não se abalou. Pois tinha convicção que, como militar, cumpri rigorosamente seu ofício. Afinal, tanto o cidadão civil quanto o mi litar servem à Pátria e não aos governos. A sociedade ou o coletiv é prioritário e não o patriciado. A lição de Comte vibrava em su mente.

Publicou sua obra "Costumes do Rio Grande do Sul - Precedid de uma ligeira Descrição Física e de uma noção Histórica" em 1883 A ela seguiram-se ensaios típicos que costumavam sair na época Ele escolheu escrever sobre sua terra. A obra "Assumptos do Ri Grande do Sul" foi publicada em 1912 e tratou de temas lingüístico e sociais de maneira mais elaborada. Foram essas suas obras mai estudadas e divulgadas. No entanto, Cezimbra Jacques publicou e 1904 "Frases e Vocábulos do Abá-Nêênga Guarani"; em 1907 "Me ditações -Assuntos Sociais"; em 1911 "Assuntos Sociais"; 1913 "f Parlamentarismo"; em 1914 "O Presidencialismo Puro"; em 1915 "O Aspirante a oficial Alberto Cezimbra Jacques - in Memoriam"; em 1917 "O Direito na Sociologia"; em 1918 "A Proteção ao Operariado na República", e outras obras sem data de publicação: "Novos Ideais Políticos" e "Prática de Esgrima". Publicou outras obras interessantes que auxiliaram a coroar seus talentos.

João Cezimbra Jacques possuía todas as qualificações para ser escolhido, como foi, patrono da cadeira n° 19 da Academia Rio-Grandense de Letras.

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Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 28

João da Silva Belém

(por Antônio Augusto Ferreira)

Anos, que nos consideramos privilegiados pelo presente desenvolvimento dos meios de comunicação cultural, em que sobressai o recurso da Internet, sempre surpreende e intriga o fato de que, no passado, tantos espíritos, esses, sim, privilegiados, tenham sido capazes de criar obras de que nos valemos, hoje, para a compreensão de nossa subjetividade e de nossa história. Dentre essas pessoas de talento incomum destaca-se, no Rio Grande do Sul, mais especificamente em Santa Maria, João da Silva Belém, uma espécie de multimídia da época:...

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