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Discurso de Posse na Cadeira 8 - José Alberto Wenzel (22/07/2021)

22 de julho de 2021

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROFESSOR RAFAEL BÁN JACOBSEN, PRESIDENTE DA ACADEMIA RIO-GRANDENSE DE LETRAS

EXELENTÍSSIMO SENHOR JOSÉ CARLOS ROLHANO LAITANO, NOSSO PARANINFO

EXCELENTÍSSIMAS SENHORAS E SENHORES ACADÊMICOS

DISTINTAS AUTORIDADES

NOBRES INTEGRANTES DA ACADEMIA DE LETRAS DE SANTA CRUZ DO SUL E DAS DEMAIS ACADEMIAS

RESPEITAVEIS COLEGAS DA SEMA, FEPAM E DO SISTEMA AMBIENTAL

ACOLHEDORAS AMIZADES

AMÁVEIS FAMILIARES 

Nosso profundo respeito aos enlutados pela pandemia

    
SENHORAS E SENHORES 

Aberto o primeiro certame de candidatura para a cadeira oito desta Academia, fomos em busca da obra do patrono José Theodoro de Souza Lobo. Encontramos a “Segunda Arithmetica". Zelosos, pois obras encadernadas que assumem as cores do tempo merecem reverência, fomos tomados pelo registro ao verso da folha de rosto. No alto da página se lê: “cada exemplar desta Segunda Arithmetica será numerado e assinado pelo autor.” Segue o número 258 e logo a seguir, em traço que as canetas tinteiro perpetuam, a assinatura J. T. Souza Lobo. De pronto, o tempo se fez atualizado. Quanto nos gratifica assinar uma obra!? Por certo um sentimento compartilhado por todos que escrevem e leem, até porque o leitor se torna coautor. O mesmo deve ter sentido o engenheiro geógrafo, professor e escritor José Theodoro de Souza Lobo, nascido em Porto Alegre em 7 de janeiro de 1848 e falecido nesta capital em nove de agosto de 1913. Sentimento que se engrandeceu ao nos depararmos com “Geographia Elementar”, compêndio escrito por ele, mas já assinado por sua filha Marietta Lobo. Quem dos que escrevem não sonha em ter alguém a dar continuidade distributiva à sua dedicação laboral, em especial a literária? O exemplar assinado por Marietta, sob o registro de número 1640, revelaria outra surpresa. Entre as páginas 166 e 167 encontra-se um trevo de quatro folhas. Desidratada, a planta assumiu o tom ocre que as impressões  graduam das bordas mais escuras para um miolo alaranjado. Quem abrigara ali aquele exemplar da natureza em instigante simbiose de época e circunstâncias? Que mensagem quis transmitir a pessoa que acarinhou um trevo por entre os parágrafos de uma obra de Geografia? 
Voltamos a percorrer o livro com todo cuidado. Nova surpresa. Entre as páginas 132 e 133, junto a um mapa rasgado, uma imagem da Virgem dobra-se quase imperceptível. Quantas revelações nos guardados em livros? Cada página, ao tempo que explana o texto, também reserva espaços infindos de possibilidades. Estas, prontas a seguirem conosco. Isso se estivermos motivados e abertos ao inusitado. Feliz de José Theodoro de Souza Lobo, que encontrou alguém que abrigou relíquias por entre suas esmeradas letras.
Seguindo as intermitências do tempo, vamos encontrar Raul Moreu Neto (1943/2016), o  último a ocupar a cadeira 8. Raul Moreu, radialista, jornalista, publicitário e escritor, honrou com sua obra a cadeira que agora nos desafia. Além de se dedicar às crônicas nos brindou com obras de conteúdo histórico como “O livro do couro” (1989) e “Tabeliães e tabelionatos do Rio Grande do Sul” (2016). Esta uma obra referencial ilustrada com o primeiro documento lavrado por Tabelionatos no Estado do Rio Grande do Sul, à época conhecido como “Continente do Rio Grande de São Pedro”.  Procedente do Arraial de Viamão o primeiro Ato do 1º Tabelionato de Notas se constitui de uma “Escriptura de Alforria”, datada em 12 de janeiro de 1763.
A mesma cadeira 8 já  recebera os acadêmicos Radagásio Vieira Taborda, Mozart Pereira Soares e Voltaire Schilling, todos mestres das letras. 
O tempo das letras nos brindaria com aproximações diferenciadas. Encontramos o Dr. Laitano, nosso paraninfo, em agosto de 2018, liderando  a comitiva desta academia em uma reunião da recém-criada Academia de Letras de Santa Cruz do Sul. Na ocasião, fomos agraciados com a obra de sua autoria, “História da Academia Rio-Grandense de letras (1901-2016) e Parthenon Literário (1868-1885)”. Logo no início do texto seu autor nos alerta para a grandiosidade das tarefas do Sodalício, realçando o direcionamento para o mister  institucional da Academia sem diminuir a importância das suas demais finalidades. 
Desafiados pela grandiosidade da Academia, eis-nos aqui: gratificados e inquietos. Gratificados pela oportunidade rara e generosa de passarmos a conviver com os dignos acadêmicos. Todavia, inquietos por nossas limitações; melhor, se preocupantes as de que temos ciência, o que dizer das que nem sequer auscultamos? Inevitável se faz o questionamento: poderemos corresponder ao que a Academia preconiza? 
A inquietude, recolhida à nossa singularidade no plural, nos alia à perspectiva esperançosa. Inebria-nos a possibilidade de partilhar narrativas e silêncios. Ambos libertadores e nutridos do fazer criativo que as boas letras abraçam, abrigam e lançam. Falamos das letras tão bem trabalhadas pelos acadêmicos, aos quais agora, respeitosamente nos associamos. Pois letras não se conformam, elas se multiplicam a cada coexistência, até porque ninguém chega e segue sozinho. Somos fluxo. Fluxo incluidor. Nos ausentássemos do fluir, estaríamos a desnaturalizar a própria natureza. A natureza, enquanto registro dinâmico das coexistências equivaloradas, nos insere interfacialmente. 
Interfacializamos com as placas tectônicas, com o ir e vir das orlas, com os ventos e seus pássaros, com as águas e suas criaturas, com as terras e suas continentalidades, com a miríade cósmica. Interfacializar se coaduna com coexistir. Ao nos vermos no espelho, a imagem reflete todas as demais existências em fluxo de alteridades. 
Assim, a partir da missioneira Cerro Largo, nossa terra natal e de Santa Cruz do Sul, terra  assumida, andarilhamos interfaces de lugares, acontecimentos e pessoas: 
– nos acalentamos do bem querer de muitos, como de nossos pais Arno e Natália, já falecidos; irmãos Roque, Irma, Inês, Vera, Beatriz, Eugênia, Miguel, Glória e, em memória, Luiz Paulo;  esposa Vera, filhos Rodrigo, Aline e genro Caio, netos Sofia e Arthur;
– nos emprenhamos das primeiras letras através das professoras Eli Gruendling Lawisch e Lia Boetcher;
– nos movemos sob o incentivo de muitas pessoas, como o Padre Bruno Rabuske, Guido Kuhn, Romeu Neumann, Romar Beling, Juremir Machado, Raul Carrion, Jorge Cervi, Yeda Crusius, Roque, Ivo e Dolores Schneider, Attílio Hartmann, João Wetzel, Flávio Tavares, Helena Hermany, Glaucus Ribeiro; 
– nos substanciamos na iniciativa privada e pública;
– nos irmanamos aos anseios dos que representamos pelo voto;
– nos congregamos com os colegas da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul  (presidente Romar Beling, Lya Luft, Mauro Klafke, Benno Kist, Roni Ferreira, Lissi Bender, Valquíria Ayres, Demétrio Soster, Mauro Ulrich, Valéria Mayer, Dogival Duarte, Edison Botelho, Moina Fairon, Gil Kipper, Elenor Schneider, Marli Silveira, Flávio Kothe, Valesca de Assis e Osvino Toillier); 
– nos solidarizamos com os que gostariam de publicar suas obras mas não encontram meios.

Movidos por muitos, amealhamos o exercício pela mútua compreensão, até porque os convictos porquês justificatórios cederam lugar aos erguimentos interrogativos. As incertezas assumiram expectativas para além da causa e efeito, ação e reação, paradigmas e modelos, arquétipos e archés. As convicções esvanecem ao toque sutil das “hespérides” fertilizadoras. As mesmas que, ao sabor da melancolia, nos arremetem, paradoxalmente, à busca por “insights.”  Quem, ao escrever,  não se empenha pela inspiração expressional? Manifestação nem sempre luzidia; não raro, obscurecida pela incapacidade pessoal, o que nos fomenta com ainda maior força para a busca angustiada. Com o que, no andar abraçamos temas, que urgem pelo ativismo modificatório que as letras alavancam, como o meio ambiente e a morte, ambos perturbadores porque íntimos a todos.  Intimidade sussurrada na solidão, condição própria dos escritores, todavia, tonitruante nas pluralidades.
A sinergia das solidões a um tempo dos personagens e, ao mesmo de seus autores, nos impulsiona ao sodalício das letras. Estas, se gaúchas, também universais. 
Se, em alguma medida, contributiva nossa trajetória, oportuniza-se nosso empenho em prol da Entidade. Empenho pelo aprimoramento da língua e seus dialetos e da literatura nacionais, pelo exame e reexame da história rio-grandense e nacional, pela preservação e divulgação da memória e acervos de seus escritores, pelo estudo crítico e difusão dos temas culturais com ênfase para os do Estado, pelo incentivo à leitura, pela realização de eventos culturais e pela inserção no agir do Estado enquanto gestões cultural e educacional. Eis, entre outras finalidades, o que nos demanda a Academia no Artigo Segundo de seu Estatuto. 
Agora, enquanto aprendizes que colhem interatividades, nos direcionamos à Entidade. Podemos partir para um voo acalentado, quase inacessível? Quem sabe o trevo de quatro folhas espremido entre as páginas da “Geographia Elementar” de José Theodoro de Souza Lobo nos acompanhe nesta rota invulgar. 
Assim, Sr. Presidente Rafael Bán Jacobsen, que tão bem conduz esta Academia, e distintos acadêmicos, de asas abertas pelas páginas dos textos e sabendo onde se encontra a exsicata protegida, pedimos licença para nos irmanarmos, em fervor criativo multilateral, aos confrades e confreiras da Academia Rio-Grandense de Letras:

  • José Eduardo Degrazia
  • Moacyr Flores
  • José Édil  de Lima Alves
  • Caio Riter
  • Maria da Glória Jesus de Oliveira
  • Élvio Vargas
  • Percival Oliveira Puggina
  • Franklin Marcantonio Cunha
  • Nilson Luiz May
  • César Alexandre Pereira
  • Jaime Piterman
  • Airton Ortiz
  • Marô Barbieri    
  • Kathrin Holzermayer Lerrer Rosenfield
  • Heino Willy Kude
  • Marília Beatriz Cibils Becker
  • Joaquim Moncks
  • Hilda Agnes Hübner Flores
  • Avelino Alexandre Collet
  • Sérgio Augusto Pereira de Borja
  • Zélia Helena Dendena Arnaud Sampaio
  • Luiz de Martino Coronel
  • José Carlos Rolhano Laitano
  • Lauro Trevisan
  • Rafael Bán Jacobsen
  • Waldomiro Carlos Manfroi
  • Ruben Daniel Méndez Castiglioni (que meu honrou ao prefaciar “Cheguei posso partir”)
  • Cláudio Moreno
  • Luiz Osvaldo Leite
  • José Nedel
  • Jane Tutikian
  • Alcy de Vargas Cheuiche
  • António Filipe Sampaio Neiva Soares e
  • Colmar Pereira Duarte

Da mesma forma, confraternizamos com os acadêmicos eméritos, associados correspondentes e honorários. Cumpre-nos, ainda, partilhar nosso reconhecimento com todas e todos que, tão logo publicada nossa eleição para a cadeira 8 deste sodalício, nos tenham generosamente cumprimentado, enviado moções e congratulações. 

Muito obrigado!

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 23

Caldas Júnior

(por Zélia Helena Dendena Sampaio)

 Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior nasceu em Porteiras, município de Vilas Nora, Sergipe, em 13 de dezembro de 1868, filho de Francisco Antônio Vieira Caldas e Maria Emília Wanderlei Caldas. O primário foi feito em casa com o auxí lio dos professores particulares Antônio Lago e Guilhermina Lima em Santo Antônio da Patrulha, Rio Grande do Sul, para onde a su família se mudou em 1872.

Concluiu o secundário em Porto Alegre no Colégio São Pedro em 1883. Foi de 1885 a 1888 revisor e...

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