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Discurso de Posse na Cadeira 15 - Marô Barbieri (16/10/2014)

16 de outubro de 2014

Prezados amigos, parceiros e autoridades.
 
Prezado Sr. Presidente Sérgio Borja
 
Todas as vidas são feitas de caminhos. E o encanto dos caminhos é que eles podem ser únicos, mas - se nós quisermos – compartilhados e não solitários.
E porque os caminhos se cruzam, é que eles se tornam múltiplos. Interessantes. Preciosos.
Por isso, escolhi falar dos caminhos. Vários. A começar pela trajetória daquele que foi o primeiro a ocupar a cadeira de número 15, aquela que vou ocupar nesta Academia.
Múcio Scevola Lopes Teixeira - nascido em Porto Alegre, em 13 de setembro de 1857 e morto no Rio de Janeiro, em 08 de agosto de 1926 - foi um escritor, jornalista, diplomata e poeta brasileiro. Viveu 69 anos.
Filho de Manuel Lopes Teixeira e Maria José Sampaio Teixeira, estudou no famoso Colégio Gomes, em Porto Alegre e foi um dos fundadores da Sociedade Partenon Literário.
Já em 1889, foi representar o Brasil na Venezuela, no momento mesmo da Proclamação da República.
Em 1896 mudou-se para a Bahia, onde tornou-se muito amigo da família de Castro Alves.
Maçom, em 1898 fundou a Grande Oriente do Rio Grande do Sul, junto com Luís Afonso de Azambuja e João Pereira Maciel Sobrinho, separando a maçonaria rio-grandense da maçonaria do Rio de Janeiro.
Em 1899 passou a residir no Rio de Janeiro com a esposa e seus seis filhos. Aliás, seu filho, Múcio Teixeira Júnior foi morar em Campo Grande, em 1913, e foi proprietário do Ateneu Rui Barbosa, tradicional colégio da época.
Em 1901 teceu severas críticas, no Jornal do Brasil, às recém lançadas Poesias Completas de Machado de Assis.
Grande apreciador do escritor francês Vitor Hugo, na ocasião de sua morte organizou uma obra em sua homenagem, a Hugonianas, coleção de alguns de seus poemas traduzidos para a língua portuguesa.
Nos seus últimos anos, dedicando-se ao ocultismo, escreveu sob o pseudônimo Barão Ergonte. É patrono de uma das cadeiras da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Foi um dos autores mais prolíficos de seu tempo, escrevendo mais de setenta obras, entre ensaios, romances, dramas e biografias.
Mudamos agora para acompanhar o caminho do Dr. Anselmo Francisco Amaral.
Dr Anselmo, nascido em Santa Vitória do Palmar, jurista, homem corajoso, dedicou-se à defesa dos direitos dos presos políticos durante a ditadura militar. Esteve a frente da resistência democrática, estimulando a todos com sua coragem e seu exemplo.
Advogado, confidente e conselheiro de muitos companheiros, Anselmo nunca esmoreceu. As novas gerações, embora distantes daquela fase cruel, são credoras de pessoas como ele.
Foi defensor do salário mínimo, do regime de 8 horas/semanais, da hora/extra e da indenização por tempo de serviço, direitos conquistados para o trabalhador.
Reconhecido pela OAB como pessoa ilustre por sua atuação durante o regime totalitário, Dr. Anselmo foi Diretor Geral e Procurador da Assembléia Legislativa.
Faleceu em 2013, com 89 anos.
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Permito-me, agora, falar um pouco da minha trajetória. Meu caminho começou em 21 de abril de 1944, em Bento Gonçalves, numa noite fria, quando minha mãe – Dona Catarina e meu pai - engenheiro militar Tenente Clide Fróes Garrido – me viram pela primeira vez.
Desde pequena, duas coisas me caracterizavam: o gosto pela leitura e uma imaginação poderosa. Além disso, uma tendência muito forte para amar a vida.
Tive uma infância longa e animada. Como meu pai era militar, viajamos pelo Brasil e não tivemos casa definitiva senão quando viemos morar em Porto Alegre. Era o ano de 1959. E já chegava a ocasião de escolher o que eu queria ser.
Sempre gostei da palavra, sempre amei o trabalho que os escritores fazem com a palavra. Cada texto novo era uma descoberta e a esperança de grandes novidades para ler, conhecer, descobrir e apreciar.
Desta época é a meu contato com a coleção tradicional chamada “Tesouro da Juventude”, contendo dezoito volumes, que me proporcionaram significativas leituras, descortinando um mundo mais amplo em conhecimento e cultura.
Como já disse, meu caminho foi constantemente interferido pela palavra literária. Porque os escritores sabem entender a vida e as expectativas que constroem uma vida.
Cecília Meireles reflete muito bem sobre isso, no seu livro “O que se diz e o que se entende”. Diz ela:
“ (...) Ah! Sim, aquelas esperanças eram a própria felicidade (...), quando ainda se sabia tão pouco da vida, do mundo e das idéias, e a existência era uma espécie de sonho que se ia descobrindo, com a aquisição de novas perspectivas, cada dia, como de sucessivas varandas vão sendo avistadas as distâncias da serra até o horizonte, e do horizonte adivinhadas até o infinito. (...)”
Pois este amor à palavra e ao rico universo ficcional, ajudou-me a escolher com acerto. Minha escolha foi ser professora. E professora de Português e Francês. Porque as línguas tem o encanto do mistério. O código está lá e parece simples mas esconde, em suas esquinas, incontáveis segredos.
Fernando Pessoa, em suas “Poesias Coligidas” diz:
“(...) Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim.
Ah, mas eu fugi. (...)”
Está aí o segredo. Que mundo de significados e possibilidades de entendimento o poeta nos oferece neste breve trecho de poema.
Evadir-se, fugir. Claro! É preciso liberdade. Esta evasão da qual nos fala Fernando Pessoa, é a possibilidade de liberdade. A construção pessoal tem de acontecer com liberdade. Uma liberdade responsável e aberta, construída pela emoção do viver.
Foi o que fiz, durante os 30 anos em que exerci o magistério, sempre no Instituto Educacional João XXIII e em várias outras escolas particulares de Porto Alegre: me permiti a emoção de viver a palavra com liberdade. E com responsabilidade.
Meus alunos sempre tiveram em mim uma companheira dedicada, aberta ao diálogo, uma amiga, sim, mas com a perfeita compreensão da tarefa de educadora.
A tarefa educacional se compõe da partilha de informação mas – muito mais – de oportunidades de formação conjunta. O microcosmo da sala de aula é rico em subsídios para a experiência ampla da vida em comum, com suas alegrias e tristezas.
Por isso fui e continuo sendo uma professora de alma e coração, que acredita na importância de sua tarefa e na responsabilidade e alcance de seu trabalho.
Além disso, me propus a batalhar pelos direitos do professor, participando dos movimentos sindicais, particularmente da vida do SINPRO, Sindicato das Escolas Particulares do RS. E pelos direitos dos escritores, em três gestões à frente da Associação Gaúcha de Escritores, a nossa AGEs.
A participação nestas ações de grupo e na política das relações foi uma das experiências mais desafiadoras (e enriquecedoras) que tive a oportunidade de vivenciar. E fico feliz porque fiz a minha parte.
Mas é preciso, de modo muito especial, falar um pouco da família. E lembrar com carinho e saudade de meu marido, Dario Cezar Barbieri, companheiro atento e amoroso com quem tive meus dois filhos, Luís Felipe e Alessandra, tesouros preciosos agora acrescidos de seus amados companheiros, Sabrina e Alexandre.
Lembrar dos meus pais e de tudo que eles me ensinaram pelo exemplo e pelo cuidado que sempre tiveram comigo.
Encontrar sempre com amor e muita alegria minhas irmãs, Vera Regina e Maria Luiza e seus queridos companheiros, Manoel e Adil.
E os amigos? Que dizer aos amigos, afetos que foram se instalando em meu coração, criando identidades, apoios, carinhos e uma preciosa convivência? Que os tenho sempre comigo e que, sem eles, a vida ficaria menos luminosa.
Para terminar, busquei ajuda na palavra de meu querido amigo e paraninfo Waldomiro Manfroi, em seu livro “Tempo de Viver”:
“(...) Noto logo que minha vida foi uma obra inacabada. Não me lamento e nem me sinto incompleto por isso. Pelo contrário, tenho a sensação de que vivi intensamente. (...)”
Eu também vivi intensamente. Não recusei desafios e recebi com alegria as oportunidades que chegaram. Esta sensação me faz sorrir e entender que a vida é isso: um constante caminho. Nada está pronto. Nada está terminado. O horizonte é sempre amplo e a busca pela felicidade não se completa. Felicidade é estar sempre atenta ao mundo, é aproveitar cada momento.
Como agora, em que partilho com todos vocês este lindo evento em que a Academia Rio-Grandense de Letras me recebe, este momento que faz com que nós todos sejamos felizes!
Obrigada.

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 19

João Cezimbra Jacques

(por José Francelino de Araújo)

O pioneiro João Cezimbra Jacques teve sua vida assinalada por dois pontos fundamentais: o infortúnio e o pioneiris-mo. Seu pai, ainda moço, morreu na guerra do Paraguai, onde também servia João Cezimbra Jacques, com apenas 18 anos de idade, engajado no 2o Regimento da Cavalaria. Sua mãe, esposa e filhos faleceram jovens.

Nasceu na rua do Acampamento, em Santa Maria, no dia 13 de novembro de 1849 e morreu no Rio de Janeiro, aos 73 anos de idade. Seu pioneirismo se revela por inúmeras iniciativas: como escritor abordou assuntos até...

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