ACADÊMICOSQUADRO ACADÊMICO
Pe. Carlos Teschauer SJ
(por Luís Alberto Cibils)
Cientista de projeção internacional, cujos, trabalhos também são estudados em Universidades. Esse nome patronímico surgiu na Antiga Academia Sul-Rio-Grandense de Letras, sendo então ocupante Tiago Mateus Würsth, nascido na Alemanha, o qual depois de ter se destacado entre nós como educador, veio a falecer em 1979. Com a unificação das Academias em 1914, a cadeira conservou-se com o mesmo patrono, número e titular.
Foi seu sucessor Antônio Carlos Machado, nascido a 27.12.1916, em Santiago. Formou-se em Direito, como jornalista procurou apresentar o essencial, o típico e o intrinsecamente regional do Rio Grande do Sul. Destacou que, em inúmeras ocorrências, destruíram elementos valiosos para conhecimento do Rio Grande antigo. Faleceu a 11.06.1990.
O Pe. Carlos Teschauer SJ nasceu em 10.04.1851, em Birnstein, no Grão-ducado de Hesse, na Alemanha. Terminado o ensino secundário, em 1866, ingressou no Seminário de Fulda, lá permanecendo oito anos; depois foi mandado para Moguncia onde recebeu as ordens as sagradas ordens do famoso Bispo Manoel Von Ketheler.
O jovem sacerdote iniciou o Noviciado na Companhia de Jesus, em Exacten, na Holanda. Concluiu os estudos de humanidades e filosofia, em Bleyenbeck, nas proximidades de Liverpool na Inglaterra, onde se dedicou aos estudos Teológicos, depois viajou para o Brasil.
Designado para o Sul, chegou a Porto Alegre, em setembro de 1880, procurando adaptar-se ao novo idioma. Iniciou sua fecunda atividade como coadjutor do Pe. Schleifer, Vigário de S. João de Montenegro.
Removido para S. Sebastião do Caí, foi nomeado Vigário onde exerceu de 1882 a 1887. Depois passou por S. Leopoldo, no Ginásio Conceição; foi Cura das almas na Capela São Rafael, na capital, até 1890. Esteve à frente da Paróquia de S. Leopoldo por quatro anos e a testa de S. José de Montenegro até 1896.
Durante a Revolução Federalista, um Capitão revolucionário acossado pelos maragatos, pediu socorro, e Teschauer o escondeu na capela, atrás do altar.
Em contato com o livro "História Geral do Brasil" de F. A. Var-nhagen, Visconde de Porto Seguro, indignou-se contra as manifestações desfavoráveis à Cia. de Jesus que, segundo o Pe. Luiz Gonza-gas Jaeger SJ, o levou a procurar a reabilitação da História, inclusive dos jesuítas. Imortalizou o martírio do Pe. Roque Gonzáles de Santa Cruz, o primeiro apóstolo dos selvícolas, entre nós. Igualmente deixou "Vida e Obras do Pleclaro Pe. Ruiz de Montoya, Apóstolo de Guairá e do Tape".
Em companhia de D. Cláudio José Ponce de Leão, Bispo de Porto Alegre, esteve em visita pastoral em Torres, através da Zona da Serra e daí prosseguindo até a Região Missioneira e, posteriormente, a Uruguaiana numa viagem que durou de 05.10.1891 até 16 de março seguinte. Percorreu o Estado durante dois decênios, muitas vezes a cavalo.
Surge, então, o historiador, com anotações pormenorizados de seu diário. Teve contato com todas as camadas sociais, visitando os restos dos Sete Povos e os sobreviventes dos índios Coroados ou Caingangs, em Nonoai, onde esteve três vezes, publicando depois uma monografia. Manuseou documentos, visitou arquivos nacional e estrangeiros, difundido em livros e revistas seus estudos, na América e na Europa. Visitou o Rio em 1910 e Buenos Aires em 1904 e 1910.
Foi sócio dos instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio fundador do atual Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
Em Parecy Novo, fundou nova Casa de Cia. de Jesus. Seguiu para Santa Cruz e voltou a Porto Alegre para servir na Capela do Carmo, fundando depois nova residência na cidade de Rio Grande, retornando depois. Nos anos de 1906 a 1913, passou na cidade do Rio Grande em serviço religioso no colégio existente e na Sta. Casa de Misericórdia. Temporariamente serviu no Hospital Militar do Cristal, em Porto Alegre, indo depois, por motivos de saúde, para Sanatórios de S. Leopoldo e Sta. Cruz.
Até 1914, esteve em S. Leopoldo, Montenegro, Caí, Capelas S. Rafael e do Carmo.
Dedicou todo seu tempo ao estudo de nossa História, Geografia, Etmologia, Folclore, Flora e Fauna, Língua inclusive a dos indígenas. Sua correspondência incluída grandes notabilidades da época, tais como Bernhard Dühr. Pablo Hernandez, Pandiá Calógeras, Ca-pistrano de Abreu, Afonso Taunay Pedro Sampaio, Rudolf Von Ihe-ring, Max Fleius e P. Wilhem Schmit.
Depois de trinta anos de estudos, deu-se a opulenta "História do Rio Grande do Sul dos Dois Primeiros Séculos" em 3 volumes aparecidos em 1918, 21 e 22. Estudou a colonização, usos e costumes dos indígenas, lutas das Missões, administração civil e militar, o comércio da época, a vida dos Sete Povos até a ocupação portuguesa. Estudou a pecuária, o regime de propriedade, a indústria, artes, as ciências entre os índios, o regime das Reduções, o alento religioso e o Tratado de 1750.
Para elaborá-la, serviu-se dos arquivos do Rio Grande do Sul, Buenos Aires, Madrid, Sevilha, Simancas, Bruxelas e Roma, consultando mais de cem obras.
Lembra que o início do Rio Grande começa com o naufrágio de Martim Afonso de Souza nas proximidades, de Chuí em 1531, descrever os habitantes primitivos e o esforço dos jesuítas em civilizá-los, bem como a conquista da terra pelos portugueses, partindo do litoral até chegar ao rio Uruguai.
Esse gigante pode ser considerado o pai da História do Rio Grande do Sul, com suas monumentais obras "História do Rio Grande do Sul dos Dois Primeiros Séculos" e "Poranduba Rio-grandense" que em língua tupi significa "Notícia ou Informação".
Seu sacerdócio revestiu-se das insígnias dignificadoras do apostolado e de uma extraordinária capacidade de trabalho e rara envergadura científica. Amou o Brasil e naturalizou-se brasileiro.
Em 25.03.1929, fraturou o osso ilíaco esquerdo que o inabilitou por cinco meses, ficando recolhido na Beneficência Portuguesa. Faleceu em S. Leopoldo a 16.08.1930, onde seu atestado de óbito registrou "arteriosclerose com insulto cardíaco ou cerebral" , com 79 anos e 56 de Ordem. A Imprensa do país lamentou seu desaparecimento, e a Ordem dos Jesuítas no "Jesuiten Lexicon" fixou seu nome no rol de seus grandes filhos.
Segundo o Pe. Arthur Rabuske SJ, também destacado sócio do IHGRGS, o Pe. Teschauer escreveu as seguintes obras:
- "Estudos Etnográficos" publicados no Anuário do Estado do RS, 1901;
- "Poramduba Rio-grandense" ou Investigação sobre as "origens do E.S. Pedro do Rio Grande do Sul" no "Anuário do Estado do RS, 1902;
- "Estudos Históricos", contribuição para o estudo da civilização do Estado do Rio Grande do Sul, no Anuário do Estado do RS, 1903;
- "Porambula Rio-grandense", Investigação sobre o idioma falado no Brasil e Rio Grande do Sul em Anuário do RS para, 1903;
- "Die Jesuiten-Mission in RS", Tipografia do Centro P. Alegre, 1904;
- "A catequese dos índios Coroados em S. Pedro do Rio Grande", in Anuário do RS, 1905;
- "A etnografia do Brasil no Princípio do Século XX" em Anuais da Biblioteca Pública Pelotense, 1905;
- "A língua Guarani e o Vem. P. Roque Gonzáles" in Anuário do RS, 1906;
- A erva-mate na história e na atualidade" Anuário RS, 1908;
- "Apostilas a uns trabalhos" no Anuário RS, 1908;
- "Aflora nos costumes, supertições e lendas brasileiras e americanas Rio Grande" - Livraria Americana, 1908;
- "Estudos Etnográficos. As aves nos costumes, supertições e lendas brasileiras e americanas" - Livraria Americana RS, 1909;
- "Vida e obra de Venerável Roque Gonzáles de Santa Cruz primeiro apóstolo do RG" - Livraria Americana Rio Grande, 1909;
- "Estudos etnográficos-históricos. Habitantes primitivos do Rio Grande do Sul" Livraria Americana RS, 1910;
- "A lenda do ouro" Tip. Minerva Fortaleza, 1911;
- "Die Caingang-oder Coroados-in brasilianischen RGS", in Anthropos, 1914;
- "A etnografia do Brasil no princípio do século XX' Livraria Americana RS, 1914;
- "O caracter canônico das reduções no RS" Revista do IHGB, Rio, 1914;
- "Algumas notas sobre etnografia folclore na flora e avifauna do Brasil" Rio de Janeiro, 1919;
- "Poramduba Rio-grandense na Revista do IHGRGS" Porto Alegre, 1921;
- "História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos" Liv. Selbach 1818-1922 em três volumes;
- "Estudos Etnológicos" in Boletim do Museu Nacional RJ, 1924;
- "Geografia imaginária e sua influência na História" RHIGRGS, 1924.
Muitos destes trabalhos foram reeditados e ampliados em várias ocasiões e resumidos, para edições populares.
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