CADEIRA 6

ACADÊMICOSQUADRO ACADÊMICO

Apolinário Porto Alegre

(por Moacyr Flores)

Apolinário Porto Alegre nasceu na cidade de Rio Grande, RS, em 29.8.1844, filho de Antônio José Gomes e de Delfina Joaquina da Costa Campello. Seus ancestrais pelo lado materno eram de Lisboa e dos Açores pelo paterno. Seu pai, tendo um homônimo em Rio Grande, acrescentou Porto Alegre ao nome a fim de evitar maiores confusões.

Antônio José Gomes, funcionário da Fazenda, teve sua transferência no cargo de inspetor para a Alfândega de Porto Alegre, aonde chegou em 12.10.1859. O jovem Apolinário continuou seus estudos no colégio de seu parente Frederico Ferreira Gomes. Em 1861 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Em uma carta, sua mãe extremosa recomendava que cuidasse dos estudos e não lesse romances que poderiam atrasá-lo nos estudos.

Morrendo o pai, Apolinário abandona o curso de Direito sem concluir o primeiro ano e retorna à cidade de Porto Alegre, onde se emprega como professor no Colégio de Ciro José Pedrosa, pois tinha que sustentar a mãe viúva, a tia e três irmãos menores, contando apenas 17 anos. Revelando-se um professor de qualidade, funda o colégio Porto Alegre, junto com seu irmão Aquiles, em 1867

Em plena da guerra do Paraguai (1865-70) Porto Alegre fervilhava culturalmente, as bandas militares tocavam na retreta da Praça da Alfândega. No teatro São Pedro, inaugurado em 1858, iam à cena dramas franceses, números de mágicas. Editava-se o jornal literário Atualidade com colaborações de Apolinário.

Em 18.6.1868 inaugurava-se a Sociedade do Partenon Literário, sob a presidência de Apolinário Porto Alegre, que contava como sócio José Antônio do Vale Caldre e Fião (1821-76), Hilário Ribeiro (1847-86), Luciana de Abreu (1848-80), Afonso Marques (1847-72), Aquiles Porto Alegre (1848-1926), Francisco Antunes Ferreira da Luz (1851-94), Damasceno Vieira (1850-1910), Amália dos Passos Figueiroa (1845-78), João Lobo Barreto (1853-75), Aurélio Veríssimo de Bittencourt (1849-1919), Teodoro de Miranda (1852-1879), Apeles Porto Alegre (1850-1917), Bernardo Taveira Júnior (1795-1872), José de Sá Brito (1844-90), Menezes Paredes (1843-81), Francisco de Sá Brito (1808-75) e Carlos Von Koseritz (1834-90), entre outros.

Em março de 1869 iniciava a publicação da Revista da Sociedade do Partenon, com artigos dos associados e um capítulo do romance Palmares, de Apolinário. O Brasil começava a viver um clima abolicionista, poetas, romancistas e dramaturgos publicavam obras condenando a escravidão como um mal que nos vinha do período colonial, como causa de imoralidade na família brasileira. Na dramaturgia os negros, que antes eram meros figurantes, passavam para o papel de antagonista e até mesmo de protagonistas. Em 1857 José de Alencar levava à cena O Demônio Familiar e em 1860 o drama abolicionista Mãe. Em 1868 subia à cena Gonzaga ou a Revolução de Minas, de Castro Alves. Estas peças marcaram o teatro brasileiro e influíram sobre Apolinário, que escreve Benedito (1873), uma comédia inspirada no Demônio Familiar e o drama Os Filhos da Desgraça (1874), participando da campanha abolicionista.

Seu teatro engajava-se no realismo que permeava a dramaturgia brasileira, sua preocupação era educar sem fazer corar nenhuma dama na platéia. Benedito possuía trama simples: Joaquim ex-sacristão queria casar com Marfisa, filha de um funcionário público que vivia de dinheiro emprestado do ex-sacristão. Mas a bela Marfisa amava o primo Alfredo, que partira para a guerra do Paraguai. O moleque Benedito fazia de tudo para ridicularizar o velho Joaquim e defender os amores dos jovens, pois tinha como objetivo sentar praça no exército e assim alcançar sua alforria. A peça retratava a situação do negro na casa do branco, onde era culpado por tudo que acontecia de errado, era último a comer e mesmo cansado não podia sentar em frente dos donos. A comédia tímida não contesta, mas está dentro da idéia que o negro tem que sair da casa do branco, porque são abusados e sem moral.

A polícia proibiu a apresentação do drama Os Filhos da Desgraça porque colocava em cena os amores de uma senhora branca com seu escravo mulato. O tema da peça procurava moralizar o povo, mostrando "o contato pernicioso e tão abusado entre nós dos escravos com pessoas de uma família".1

Grande parte de sua produção literária está na Revista da Sociedade do Partenon Literário e no jornal literário Murmúrios do Guaíba. Colaborou em diversos jornais, como Gazeta de Porto Alegre, Rio-Grandense, Imprensa, Federação, Jornal do Comércio, Democracia, A Reforma.

Em 1870 terminou a Guerra do Paraguai, a cidade de Porto Alegre crescia pela Cidade Baixa e em torno da Capela do Menino Deus. Viajava-se de barco, desde o trapiche no Centro até o que ficava no Menino Deus, na atual Avenida José de Alencar. Ou em então de carro de tração animal pela estrada da Várzea, seguindo depois pela Avenida Princesa Isabel (Getúlio Vargas). O terceiro caminho era pela bucólica Praia de Belas, depois de atravessar a ponte de pedra, seguindo pela beira do Guaíba, sombreada por verdes chorões. Nesse ano, contando também com o auxílio do irmão Apeles, Apolinário instituía o colégio Rio-grandense. Apolinário assume a direção da revista mensal Murmúrios do Guaíba, que reunia a produção dos literatos da cidade.

Novas mudanças ocorriam na cidade, inaugurava-se em 1873 a linha dos bondes de tração animal da Companhia. Carris Porto Alegrense, da Praça da Independência (Argentina) até a Praça do Menino Deus. No ano seguinte o Centro de Porto Alegre recebia iluminação a gás.

Autodidata, Apolinário buscou nos livros a ampliação de seus conhecimentos. Seu amigo e correligionário Gaspar Silveira Martins trazia-lhe livros da Europa. Fundou o colégio Porto Alegre, o Colégio Rio-Grandense, que passou a seu irmão Apeles Porto Alegre.

Ao criar o Instituto Brasileiro, em 1876, no Beco da Marcela, junto à estrada do Meio, numa chácara tida como lugar aprazível e saudável, audaciosamente Apolinário atacava a educação tradicional, reformando os programas de estudo, abolindo o castigo corporal, meio tirânico que aviltava os mestres e os discípulos, pois o estudo não se impõe, ensina-se. Apolinário encarava a educação sob tríplice aspecto: física, intelectual e moral. Em seu Instituto introduziu a educação física com carreiras, salto, passeios às regiões dos morros de Porto Alegre e natação. Partia do princípio que "o corpo é instrumento da alma; é por ele que o nosso ser pensante acha-se em comunicação direta com o mundo exterior".2

Era realmente uma transformação do ensino numa sociedade conservadora que ainda considerava a palmatória e a vara de marmelo como instrumentos didático-pedagógicos.

A mudança no ensino não estava somente no desenvolvimento da força e da higiene, havia também a cultura dos órgãos dos sentidos nas aulas do curso primária com o estudo da geometria prática, desenho e música procurando atingir o princípio adotado na escola: Mens sana in corpore sano. Apolinário citou Leibniz em uma de suas cartas a Placcius: "Sempre pensei que se reformaria o gênero humano, reformando-se a educação da mocidade". Criticava as outras escolas que se preocupavam com muitas ilustrações e poucas consciências, nada de caráter nacional, nada de mães de família, nada de homens de bem! Apolinário apontava a educação moral como a salvação da pátria brasileira.

O Instituto Brasileiro possuía o curso primário, secundário e artístico.

No curso primário lecionavam os mestres Apolinário Porto Alegre, Alfredo Pinto, José C. Alves e Carlos B. de Barros. O Curso compreendia três seções. A primeira era de leitura, rudimentos de aritmética, cálculo sobre as quatro operações por meio de problemas fáceis e sem auxílio de livros, primeiras noções de caligrafia, ensaios de recitação, desenho linear, solfejo e ginástica.

A segunda seção compreendia exercícios de leitura em prosa e verso, continuação da aritmética, caligrafia, teoria geral da gramática, análise etimológica, exercícios ortográficos, geografia do Brasil, corografia da província, recitação, desenho linear, solfejo e ginástica.

Na terceira seção os alunos apreendiam leitura em prosa e verso, continuação da aritmética, compreendendo as proporções e o sistema legal de pesos e medidas e sua aplicação aos diferentes usos da vida, ensino desenvolvido da gramática, análise lógica e gramatical, conhecimentos gerais de geometria e suas aplicações práticas, elementos da história natural, recitação de trechos de autores nacionais, em prosa e verso, redação sobre o tema dado, elementos de história do Brasil, solfejo e ginástica.

O curso primário durava de três a quatro anos, mas o aluno que por seu aproveitamento acha-se habilitado em cada semestre poderia prestar exame e passar para a seção seguinte.

O corpo docente do Curso Secundário era formado pelo Dr. José Gonçalves Viana, Dr. José Félix Barbosa, Luís Kraemer Walter, Frederico Fitzgerald, Alfredo Pinto, Apeles Porto Alegre e Apolinário Porto Alegre.

O Secundário dividia-se em curso preparatório e curso facultativo.

No preparatório ensinava-se português, francês, inglês, latim, geografia, história, retórica, poética e literatura, matemáticas elementares, compreendendo aritmética, álgebra, geometria e trigonometria e filosofia.

No curso facultativo ministravam alemão, grego, ciências físicas e naturais. Nele estava incluído o curso comercial, que constava de aritmética comercial, escrituração mercantil, correspondência comercial em português, francês, inglês, alemão e elementos de economia aplicada ao comércio e à indústria.

O curso artístico compreendia canto, música e desenho.

Como o Instituto Brasileiro ficava numa chácara do subúrbio distante da cidade, hoje chamada de Centro, em relação aos bairros, os alunos eram admitidos como pensionista, que permanecia no colégio, e meio-pensionista que ia à noite para a casa dos pais ou responsáveis. Em 1878 as pensões eram pagas por trimestres adiantados, não havendo descontos se o aluno se ausentasse ou entrasse em férias. A tabela era a seguinte:

Interno primário

120$000 rs

Interno secundário

130$000 rs

Meio-pensionista primário

60$000 rs

Meio-pensionista secundário

80$000 rs

Algumas matérias, conforme a tabela abaixo, eram pagas em separado:

Grego, alemão, escrituração mercantil

5$000 rs

Desenho e música

6$000 rs

Esgrima

2$000 rs

Além dessas taxas, o estudante pagava jóia de entrada pelo serviço de cama, colchão, travesseiro, lavatório, mesa e etc., ou seja pelos objetos que eram fornecidos para o cotidiano do aluno no Instituto, no valor de 36$000 rs.

Os pais forneciam os livros ou pagavam por eles ao colégio, que fornecia papel, penas, lápis sem despesas para o aluno.

Os alunos internos deveriam trazer como enxoval:

2 casacos brancos

6 lençóis para cama

2 calças brancas

4 fronhas

1 colete branco

1 cobertor de lã encarnada

2 gravatas pretas

3 colchas brancas

12 camisas brancas 

6 toalhas

6 ceroulas

2 sacos para roupa servida

1 par de botinas

1 pente de alisar outro fino

12 pares de meias

1 escova de cabelo

3 pares de calça de brim escuro

1 escova de dente

3 blusas de brim escuro

1 tesoura para unhas

1 sobretudo

1 par de sapatos grossos para uso diário

12 lenços

 

Todas as peças de roupa deveriam ser marcadas. Não eram admitidas jóias no colégio. O serviço de lavagem de roupas do aluno custava 15$000 rs por trimestre.

No caso de doenças de alunos que os pais residissem distantes, o doente seria internado na enfermaria do colégio, mas se a doença fosse contagiosa, o discente sairia da escola, ficando aos cuidados da família do diretor Apolinário Porto Alegre. A família do aluno arcaria com a despesa de tratamento, salvo as dietas de enfermidades pouco graves.

O Instituto Brasileiro não aceitava aluno sem uma pessoa responsável e idônea na capital. Seriam admitidos apenas os alunos vacinados.

O ano letivo, muito maior que o atual, começava no dia 15 de janeiro e terminava em 15 de dezembro com os exames públicos dos alunos e distribuição de prêmios.

Segundo a pedagogia da época os prêmios serviam de emulação entre os alunos. A rivalidade entre eles, tida como sadia e necessária, estimulava a dedicação ao estudo. Realizavam os exames orais em público perante representante da delegacia especial da Instrução Pública, dos pais e colegas. O exame de português constituía-se em pré-requisito para os demais. No longo ano letivo marcavam como feriados os domingos, dias santos de guarda, o dias de entrudo (substituído pelo carnaval), os de festa do Espírito Santo, os de festividade nacional e o período entre 15 de dezembro a 15 de janeiro. Os alunos só podiam pernoitar fora com licença do Diretor. Os passeios também dependiam de autorização do Diretor.

Embora abolindo a palmatória e a vara, os alunos podiam ser castigados, conforme as faltas com repreensão fora da aula, repreensão dentro da aula, perda do recreio, proibição de sair, trabalhos de cópias de textos em prosa ou verso, prisão e expulso.

A biblioteca do Instituto estava franqueada aos alunos de instrução superior.

Os parentes e amigos só podiam visitar os meninos internos às quintas feiras, das 16 às 18 horas.

No dia 20 de setembro, data da Revolução Farroupilha e no 14 de julho, que marcava a Revolução Francesa, a banda do Instituto Brasileiro desfilava pelas ruas da cidade tocando o hino da República Rio-Grandense e a Marselhesa, soltando fogos de artifícios para uma cidade atônita em plena monarquia decadente. Os alunos eram republicanizados e enfrentavam os da escola Militar, tidos como participantes de uma monarquia carunchada.3

Apesar dos avanços pedagógicos, o Instituto Brasileiro recebia apenas menino, pois segundo a mentalidade conservadora da época, os dois deveriam estudar em separado e assim mesmo, as meninas deveriam ser dirigidas para as chamadas prendas domésticas, treinadas para serem boas esposas e mães. Como a mulher estava destinada unicamente ao espaço doméstico, não precisava estudar.

Em 22.7.1891 morria América, filha de 12 anos e a 29.11.1891 falecia Elisa, esposa de Apolinário. Abalado pelo duplo golpe, Apolinário fecha o Instituto Brasileiro e retira-se para uma chácara no morro Santana, que entestava com o Caminho do Meio, hoje Avenida Protásio Alves. A casa branca servira de quartel e de hospital aos farroupilhas. A edificação era simples, de um pavimento, com uma porta e três janelas de cada lado, telhado com beirais. A propriedade fora comprada de Joaquim Estácio de Bittencourt em 1885. Apolinário ampliou o pomar com várias frutíferas, construiu um orquidário e roseiral. Gozando de mais tempo na chácara, Apolinário teve tempo para escrever o Cancioneiro da Revolução de 1835.

Apolinário teve uma intensa vida política. Em 1868 fundava o Clube 20 de Setembro, reunindo republicanos na capital da província. Em 1874, Francisco Cunha criava a Associação Secreta dos Federados (ADF), da qual Apolinário participava com outros republicanos que desejavam a federação. A ADF publicava o jornal semanal A Democracia, mas terminou quando Francisco Cunha passou para o Partido Liberal, a convite de Gaspar Silveira Martins, monarquista e parlamentarista.

Em 1878 Apolinário fundava o Clube Republicano que tinha como objetivo dirigir um movimento democrático republicano através da imprensa. Mas chegou um grupo de jovens bacharéis de S. Paulo, impregnados da filosofia de Auguste Comte, entre eles Júlio Prates de Castilhos, que excluíram os republicanos históricos do movimento em nome de uma doutrina que pregava a ditadura científica positivista que provocou a discordância entre os políticos rio-grandenses, a maioria com idéias liberais.

Na convenção republicana de 23.2.1882, Apolinário defendeu a abolição imediata da escravidão. Castilhos impôs sua idéia de abolição gradual e com indenização aos senhores. A convenção criou o Partido Republicano Rio-Grandense, sob a liderança de Júlio de Castilhos. No jornal A Reforma, do Partido Liberal, Apolinário publicou artigos contundentes contra o positivismo seguido por Júlio de Castilhos.4

Apolinário, José Gomes Porto Alegre, Antão Gonçalves de Faria, Jaime de André Faceiro e Gaspar Guimarães fundam em 22.11.1885 o Clube Bento Gonçalves reunindo os republicanos dissidentes. Esse grupo e mais os dissidentes do Partido Liberal, fundam em 1890 a União Nacional, com o seguinte programa: liberdade religiosa, liberdade civil, liberdade política, restauração do sistema parlamentar com restrição ao poder Executivo., descentralização política e administrativa. Em 23.4.1891 a União Nacional muda de nome para Partido Republicano Federal, praticamente com o mesmo programa, acrescentando o presidencialismo que provocou a retirada de políticos oriundos do Partido Conservador e do Liberal. Com o retorno de Gaspar Silveira Martins do exílio, há nova mudança de nome e de programa, em 31.3.1892, criam o Partido Federalista do Rio Grande do Sul que fará acirrada oposição a Júlio Prates de Castilhos.5

Em 1887 Júlio Prates de Castilhos pretendia a separação do Rio Grande do Sul do Império do Brasil para formar uma federação com Santa Catarina e São Paulo, ou então com a República do Uruguai. Realizou-se uma reunião na casa de Luiz Leseigneur, na Azenha, presidida por Castilhos que tentava impor sua idéia fratricida. Ernesto Alves, Apolinário Porto Alegre e Luiz Leseigneur combateram a idéia de separatismo. Seguiram-se outras reuniões na casa de Gaspar Guimarães. Diante da oposição hostil, os seguidores de Júlio de Castilhos transferiram o congresso republicano para Santa Maria, com o pretexto de que a estância de Castilhos estava mais perto daquela cidade. Joaquim Francisco de Assis Brasil condenou o projeto durante a convenção republicana. Castilhos tornou-se desafeto de seu cunhado Assis Brasil e de Apolinário Porto Alegre.6

Em 1885 Apolinário comprou a Casa Branca, situada no morro Santana, junto à estrada do Caminho do Meio (Avenida Protásio Alves). Organizou o pomar com frutíferas nacionais e estrangeiras, bem como uma valiosa coleção de orquídeas debaixo de um caramanchão, ao lado da casa.7

Em 1892 instalava-se o terror castilhista objetivando a consolidação da ditadura positivista. Os opositores são encarcerados, entre eles Apolinário, em 4.7.1892, por ser o redator do jornal A Reforma, órgão dos seguidores de Gaspar Silveira Martins. Solto, publica no dia 11 um artigo desafiando a fúria do mandonismo. Sua casa novamente é invadida, mas ele estava escondido na casa de seu irmão Apeles, à Rua Duque de Caxias, a mesma do Palácio do Governo. À noite fugia para a casa branca, onde esteve uns tempos escondido, até conseguir um camarote num pequeno navio que o levou a Desterro, hoje Florianópolis, juntando-se aos federalistas e depois se refugiado em Montevidéu. Retornou a Porto Alegre em 1896, publicando no Jornal do Comércio sua Viagem a Laguna.

Durante a revolução de 1893-95, a Casa Branca de Apolinário, no morro Santana foi depredada por autoridade policial de nome Manoel João Nunes, que pintou os cavalos tordilhos de piche, cortou as árvores frutíferas a machado, soltou animais no terreno e esparramou documentos e originais de Apolinário pelo pátio.8

Ainda em represália, a municipalidade retificou o Caminho do Meio, passando a estrada no meio do campo da casa branca. O prédio do Instituto Brasileiro foi demolido para a abertura de uma rua.

Ouve tocaias contra Apolinário, na estrada que passava pela Chácara das Pedras, atual Avenida Protásio Alves, sem que os bandidos disparassem por serem enganados pela troca do cavalo zaino de Apolinário por um tostado de propriedade de um amigo. Mas na terceira, em 18.11.1896, dispararam dois tiros. Simples advertência? Má pontaria?

Apolinário Porto Alegre morreu na Santa Casa de Misericórdia, em 23 de março de 1904, deixando obras de filologia, história, contos regionalista, romances, poesias e teatro, numa gigantesca produção de intelectual autodidata.

 Os originais do Popularium Sul-rio-grandense, que estiveram esparsos por um século, foram reunidos e organizados pelo cipelista Lothar Francisco Hessel, publicados em 1980. (Moacyr Flores).

Obra: 

A obra de Apolinário Porto-Alegre possui como características o regionalismo e o romantismo. O Rio Grande do Sul é a temática de várias publicações, sendo sua principal O Vaqueano, de 1872. Alguns críticos afirmam que a obra foi inspirado no livro O Gaúcho, de José de Alencar.

''O inverno desatava as madeixas emperladas de gelo, tão triste que magoava o coração e despertava idéias sombrias, como céus e terras. Não sei que íntima e mística afinidade existe entre a natureza e a alma humana, que a morte-cor de uma se reflete na outra como em bacias de límpidas águas, que o múrmur surdo e merencório desta, como num tímpano, encontra ecos naquela. Inverno é um cemitério! Sazão de morte que não poupa a terna vergôntea, nem as catassóis da asa do colibri! Por isso o calafrio que se sente quando ele se aproxima, o terror que vaga na floresta e na campina, a palidez do manto de verduras, a ausência dos cantores plumosos... e depois o minuano! Como é cruel, ele que fustiga a árvore secular, quee aspergia doce sombra no ardor da sesta, até lhe arrancar uma por uma as folhas de seu diadema! Que cresta a várzea há pouco vicejante alfombra! que torna a linfa de onda argentina e anodina, fria como uma geleira, silenciosa como um ermo, ingrata ao lábio na exsicação da sede! Quem pode amar-te quadra sem sombras, brisas, cantos e flores? Período que espasma a vida e congela a flor das alegrias? Só quem não sente, alma embotada para as sensações brandas e suaves, que rodeiam a existência de uma gaza transparente e rósea que se chama poesia!''

Conto

• Paisagens (1874)

Historiografia

• História da Revolução de 1935

Poesia

• Poesias bromélias (com o pseudônimo de Iriema) (1874)
• Cabila (1874)
• Flores da morte (póstumo) (1904)

Romance

• Os palmares (1869)
• O vaqueano (1872)
• Feitiço de uns beijos (1873)
• Lulucha (publicano na revista O Guarani) (1874)
• Crioulo do pastoreio (1875)
• Gracina
• Vaqueiro
• Flor da laranja
• Os dois amores
• O homem e o século

Teatro

• Cham e Jafé (drama) (1868)
• Benedito (comédia) (1872)
• Sensitiva (drama) (1873)
• Mulheres! (comédia) (1873)
• Jovita (colaboração de Meneses Paredes)
• Os filhos da desgraça (drama) (1874)
• Epidemia política (comédia) (1874)
• Ladrões da honra (drama) (1875)

Outros

• Viagem a Laguna (1896)
• Populário sul-rio-grandense
• Morfologia ário-guaranítica (1880)
• Dialeto nacional

Contribuições

• Dicionário, de Caldas Aulete
• Dicionário de vocábulos brasileiros, de Beaurepaire-Rohan
• Raízes do português falado no Brasil
• Vocabulário sul-riograndense, de Romaguera Correia  

Bibliografia

CLEMENTE, Elvo. Apolinário Porto Alegre. Revista Veritas, Porto Alegre, PUCRS, 1(1):13-25, nov. 1955.
HESSEL, Lothar Francisco. O Partenon Literário e sua obra.  Porto Alegre: Flama/SEC, 1975.
FLORES, Moacyr. O teatro abolicionista de Apolinário Porto Alegre. Revista de Estudos Ibero-americanos, Porto Alegre, PUCRS, 4(2): 239-48, dez 1978.
FLORES, Moacyr. Apolinário Porto Alegre, o professor e o político. In FLORES, Hilda Hübner Flores. (Org.). Vidas e Costumes. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1994, p. 133 a 142.
PORTO ALEGRE, Álvaro. O ciclo de Apolinário Porto Alegre. Porto Alegre, Thurmann, 1944.
______________. Apolinário Porto Alegre. Porto Alegre: Thurmann, 1954.
______________. Ronda da História. Porto Alegre: Thurmann, 1956.
______________. Partenon Literário. Porto Alegre: Thurmann, 1962.
PORTO ALEGRE, Apolinário. Instituto Brasileiro. Porto Alegre: Litografia Ladeira, 1879.
_______________. Paisagens. Porto Alegre: Movimento/Brasília: INL, 1987.
PORTO ALEGRE, Aquiles. Através do passado. Porto Alegre: Globo, 1920.
SOUZA DOCCA, História do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954.

 

1. SILVA, Hilário Ribeiro. Ementário mensal. In Revista do Partenon Literário, Porto Alegre, 1.(4): 133-42, jun 1869, p. 140.

2. PORTO ALEGRE, Apolinário. Instituto Brasileiro. Porto Alegre: Litografia da Ladeira, 1878.

3. PORTO ALEGRE, Álvaro. Apolinário Porto Alegre. Porto Alegre: Thurmann, 1954, p. 12.

4. PORTO ALEGRE, Álvaro. Ronda da História, p. 44-5.

5.  SOUZA DOCCA. História de Porto Alegre, p. 367-369.

6. Jornal A Reforma, Porto Alegre, 5.8.1892. Citado por PORTO ALEGRE, Álvaro. Ronda de História, p. 19.

7. PORTO ALEGRE, Aquiles. Através do passado, p. 51.

8. PORTO ALEGRE, Álvaro, idem, p. 46.

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Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 33

César de Castro

João César de Castro nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 8 de fevereiro de 1884, filho de Antônio Geresino de castro e Henriqueta Lindner de Castro. Estudou na Escola Preparatória de Rio Pardo em 1899, na Escola Militar do Realengo no Rio de Janeiro, sendo desligado da mesma em 1904 por má conduta. Concluiu em 1908 na Escola de Guerra de Porto Alegre o curso militar. No curso do Estado Maior do Exército, obteve o grau de engenheiro geógrafo, cursando em seguida aperfeiçoamento no Exército. Em 1925, formou-se médico pela Faculdade...

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