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Discurso de Maria Carpi ao receber o Troféu Escritor do Ano
13 de dezembro de 2019
Sou essencialmente Sul.
E o Sul, a Casa do Pampa, é a cordialidade.
Estou recebendo, sem exagero, a luz do Cruzeiro do Sul.
Desde menina, chama minha atenção de Poeta, nos terrenos baldios e na lavoura, o resto do que sobra das colheitas ou da queda dos frutos. As garças com seu bico e mulheres, dobrando os joelhos, sabem do que estou falando.
E ao ouvir as Escrituras, maravilhou-me que o Resto de Israel desse origem ao Povo do Livro. E lembro que também os Farrapos são um resto que se levantou da Epopeia Sulina.
Sem falar, depois, com grande compaixão, do resto dos holocaustos e guerras.
E depois, com santa indignação, como Defensora Pública, dos excluídos da sociedade civil desde a infância.
Sim, Poesia e Justiça andam de mãos dadas. Não há como separá-las.
Nomeei Castro Alves, Defensor Público, pela corajosa escrita do Navio Negreiro.
E como cidadãos, escritores e poetas, leitores, senhores acadêmicos, temos o dever de exercer a ética comunitária.
A nossa tendência é sermos agregados a um individualismo soberbo centrado no ego. A nossa moral é excludente, corporativista. Criamos murros, fossos, privilégios, entre a nossa felicidade pessoal e o desemparo alheio.
Mas há de sobrar, em nosso coração, um grão, um resto - ao menos uma faísca - para percebermos que somos também o povo do livro e escrevermos juntos, irmanados, com nossa participação comunitária, o mais belo poema social de uma Nação para todos.
Maria Carpi
(Discurso proferido no Auditório Barbosa Lessa do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo em 05/12/2019, por ocasião do recebimento do Troféu Escritor do Ano do Prêmio Academia Rio-Grandense de Letras)