TEXTOSARTIGOS
Ignorância e Desconhecimento - Heino Willy Kude
30 de novembro de 2014
Qual é a diferença entre Ignorância e desconhecimento? Em si nada, por significarem exatamente o mesmo. Porém pouco a pouco estabeleceu-se uma discriminação contra a palavra ignorância e que hoje mais significa desconhecimento acompanhado com aversão à aquisição de conhecimentos. Num conhecido programa de televisão aparece a figura da Ofélia que só fala, quando tem certeza, dizendo naturalmente bobagens. Aqui trata-se de um caso de um programa humorístico e nem caberia perguntar, se estamos frente a um caso de ignorância ou de desconhecimento. Mas vou formular a pergunta de qualquer modo. Pode alguém ter tanta certeza de seus conhecimentos? Eu diria que sim, pois se estivermos frente a uma pessoa que leu muito, pode ela até se orgulhar de seus conhecimentos, sem se lembrar que – conforme avaliação minha – cerca de cinquenta por centos do que lemos em publicações não educativas e não especializadas dirigidas a profissionais de um ramo de uma determinada atividade humana, estão crivados de erros. Vou relatar dois casos de como é capaz de se espalhar a desinformação. No dia primeiro de abril saiu na coluna Bric-à-brac da Vida do jornal Correio do Povo um grupo de notícias completamente inexatas, em homenagem ao dia. Uma delas dizia: Porto Alegre foi fundada no ano de 1654 e logo depois foi destruída por uma erupção vulcânica e que vestígios da cratera do vulcão ainda se encontram no Morro da Glória. Um dia depois o professor de geologia disse com toda a correção que nunca leu tanta bobagem assim, pois, se em 1654 ocorreu uma erupção vulcânica, o Morro da Glória ainda estaria envolto em fumaça que em matéria de geologia, trezentos anos não seria nada. Esclarecido o assunto, só restou o riso. Será? Nada disso. Uma grande revista de cunho científico e cultural que hoje, lamentavelmente não existe mais, a Coletânea reproduziu a matéria e um cidadão muito culto, o professor Alberto Gosch perguntou mais ou menos em 1969 a respeito do assunto, já que estava se discutindo a respeito da exata data de fundação de Porto Alegre, tendo ficado estabelecido que seria 1772. Mas em 1972 o saudoso jornalista Carlos Nobre em sua coluna humorística escreveu mais ou menos o seguinte: Dizem agora que Porto Alegre foi fundada em 1654 e destruído logo após por uma erupção vulcânica. Tal deve ser verdade, pois basta olhar para as muitas crateras que se encontram nas ruas da cidade. Como podemos ver durante dezoito anos uma notícia propositadamente sobreviveu e se a Ofélia tivesse dito que teria certeza em afirmar que Porto Alegre foi fundada em 1654, pode alguém a chamar de ignorante, quando um homem culto como o foi o professor Gosch, no mínimo, considerou a informação como correta!
Vou para a segunda história, na qual não cito nomes, pois o ocorrido pode denegrir o conceito de pessoas que de outra, são muito respeitáveis. Corrijo: Um deles não pode ser considerado respeitável, por ser um inescrupuloso desinformado, se bem que em assuntos de limitada repercussão. Um certo clube foi fundado no dia primeiro de abril por descendentes de alemães. O cidadão A era na época por mim considerado um grande historiador. À parte, mea culpa, mea maxima culpa, o que digo lamentando o meu engano. Estando A reunindo material para escrever a história do clube, perguntei inocentemente, se o fato de Otto von Bismarck, o chanceler deferro, (nascido em 01/04/1815) altamente conceituado na colônia dos descendentes de alemães no estado, poderia ter tido alguma influência na escolha da data? A nem sabendo que Bismarck tinha nascido em primeiro de abril, pediu que eu confirmasse a informação, o que fiz. Pois bem, ao ser publicado o livro, para o meu espanto li que a data foi escolhida por ser aniversário de Bismarck, conforme lhe havia revelado em seus últimos dias de vida um dos fundadores do clube. Bem, o cidadão B, muito culto por sinal, mais acreditando no renome de historiador de A que neste escriba aqui, insiste e o acompanhando muitos elementos de escol de referido clube que Bismarck seria algo como patrono do clube. O que aqui escrevo pode ser importante, pois em 2.024 vão ocorrer os festejos de duzentos anos da imigração alemã e seria de todo lamentável que uma desinformação dessas pudesse empanar o brilho dos futuros festejos.
Bem, o que dizer? Nos dois casos ocorreu algo que se poderia chamar de informação errada proposital. No primeiro caso nada mais que uma brincadeira, mas já no segundo caso, era algo que se poderia chamar de sensacionalismos. Como se deve lamentar existir algo assim. E confesso lisamente que em algumas oportunidades fui vítima de algo assim e culpado ao mesmo tempo por ter divulgado o que li em fonte errada. Um caso que ainda recordo é que numa reunião da Academia Rio-Grandense de Letras que integro com muita hora para mim, falei sobre a espetacular ópera Carmen, de Georges Bizet (1838 – 1875). Ali, no primeiro ato aparece a famosa habanera que em verdade não foi composta por Bizet, mas por Sebastián Yradier (1809 – 1865) com o título El Arreglito. Depois da estreia da ópera Yradier teria reclamado, tendo ouvido de Bizet um pedido de desculpas, por ter imaginado que a melodia fosse uma música folclórica espanhola. Mas a Carmen estreou em 1875 e o leitor atento ao reler o texto verifica logo que cometi uma gafe. Desculpem, mas foi falta de atenção minha. A informação errada foi me passada num programa radiofônico. E assim entro nas informações culturais que aparecem na mídia. A bem da verdade lamento dizer que cerca de dez por centos do que ali se lê não confere. Sempre li com muita atenção tais informações, curioso, como graças a Deus ainda sou. Sou igualmente muito crítico. Isso aí deve ao fato de ter ouvido durante certo tempo uma versão da história e mais tarde, exatamente o contrário. Sempre pergunto ao ler algo, se o autor da notícia não estaria interessado no que diz, em especial, ser sensacionalista, interessado no impacto do redigido. Mesmo assim, passou pelo meu crivo a história da habanera da ópera Carmen.
Em especial, mais talvez como cético que sou me volto contra informações a respeito de anjos e diabos da história e as lutas travadas entre tais figuras. Quem não considera Nero como sendo um louco sanguinário, um desvairado que mandou matar milhares de cristãos, atribuindo a eles a culpa pelo incêndio de Roma, só com fito de jogar para longe de si a responsabilidade ter incendiado sua própria capital. Vi o filme Quo Vadis e na oportunidade achei que finalmente Hollywood tinha produzido uma superprodução que não fosse medíocre. Vi uma das melhores representações de um maníaco de Peter Ustinov como Nero, mas... Fico chateado ao perceber que gente que ganha rios de dinheiro ao elaborarem o script de um filme desses não encontrem argumentos para os personagens que flagrantemente são seus inimigos. Abraham Lincoln (espero que a informação seja correta) como advogado insistiu em apresentar o caso do adversário sempre melhor e mais brilhante que o próprio. Bom, incêndios de grandes proporções em Roma na época não eram novidades. Parece que o incêndio do dia 18 de julho de 64 não impressionou muitos cronistas na época e só por motivos religiosos depois se passou a falar, atribuindo a culpa um louco. Querem uma justificativa – aceitável por qualquer historiador - que se poderia colocar na boca de Nero? Estou saturado de ouvir que os palestinos a todo o momento reclamam da autoridade romana, atacam nossos legionários de tocaia no calado da noite. Tenho certeza que essa gente incendiou Roma e assim determino que toda essa gente seja condenada à morte, tanto cristãos como judeus que é gente da mesma laia.
A revista Super-Interessante publicou um artigo no qual Nero é classificado como sendo um bom imperador. Antes já fiquei sabendo que ele introduziu leis sociais de proteção à infância e à velhice. Não apreciava lutas de gladiadores, instando que o povo se voltasse à cultura, poesia e teatro. O que dizer?
Uma forma fácil de se aprender algo, de adquirir cultura é nos valer do slogan a ser usado no lugar de conceitos dotados de certa base científica. É interessante ver a origem da palavra slogan que segundo o dicionário Wahrig vem do gaulês sluahgairm e o que significagrito de guerra. Até proponho que no lugar da palavra slogan se use grito de guerra, pois efetivamente é exatamente isso. Assim tem algumas palavras por aí que chegam a assustar. Kant criticou a razão pura e se ele tivesse visto todas essas palavras assustadoras que são utilizadas para se ter chance de vencer numa discussão, teria não criticado a razão, mas sugerido de jogá-la no primeiro lixão que por aí existe. Muitos valem-se desse tipo de palavras e o oponente simplesmente se cala, o que numa democracia nem deveria existir. Querem ver exemplos?
Colonialismo: Quem não pensa nos exploradores de povos primitivos, cuja resistência é minada por bebidas alcoólicas, onde crianças e velhos devem trabalhar até a exaustão para enriquecer casas comerciais europeias. Nessas terras os cargos de responsabilidade são entregues só a europeus. O que dizer? Que seja exatamente o contrário, nem penso fazer! Que isso assim aconteceu, acontece, mas tem um lado positivo. Vou dar um exemplo que encontrei por mero acaso na enciclopédia Meyer de 1910 em língua alemã. Naqueles tempos o império alemão tinha quatro colônias na África: Togo, Camarões, Namíbia e Tanzânia. Com exceção de Togo, as outras três eram altamente deficitárias. Lamento não saber da situação do Brasil de 1822 em relação a Portugal para poder avaliar o que sempre se diz que os portugueses tenham levado nossas riquezas à matriz.
Escravidão: Pelo amor de Deus, eu como pessoa integrante da classe média não desejo ser escravo. Mas eu me lembrei das palavras de Leonel Brizola que analisando certa feita a situação dos miseráveis aqui, indicando que presumivelmente vivem pior que os escravos. Já no início do século Havia quem preocupado com problemas sociais dissesse que os escravos na América viviam melhor que os trabalhadores em minas de carvão na Inglaterra. Provavelmente esta publicação dizia a verdade, mas, por outro lado, sempre se discutia sobre escravidão, sim ou não. Pode ser que o articulista aqui queria mostrar a escravos quão boa era a sua vida. A situação dos servos europeu, muitos dos que viriam ao Brasil, não era nada melhor, conforme li na biografia de Bismarck da pena de Emil Ludwig. Eles tinham como vantagem o fato de serem libertados, cerca de cinquenta anos antes do escravos negros. Ao contrário dos escravos de origem africana e dos servos europeus, o trabalhador livre tem o direito ir e vir que por falta de recursos não aproveita, salvo no ônibus e trem suburbano na madrugada e no início da noite.
Ficamos nisso aqui, se bem que tem muito mais...
Ignorância na acepção a meu ver errada da palavra liga-se intimamente com Tolices e Burrice. Na tragédia A Donzela de Orleans(Jeanne d´Árc) de Friedrich von Schiller aparecem a seguinte sentença: Contra a tolice até os deuses lutam em vão. Lógico que o problema da burrice está intimamente ligado com o muito que expus antes neste trabalho aqui. Mas também aparecem componentes outro como discriminação, títulos universitários e outros. Vou aqui relatar aqui algo que desconfio tenha existido. Não venham pensar que seja algo indiscutível. Não sou o historiador A que escreveu sobre a história de seu clube. Pela época em pode ter ocorrido, podem as autoridades brasileiras – todas voltadas para o positivismo – terem discriminado a padre Roberto Landell de Moura, justamente por ser clérigo. Segundo uma palestra do grande amigo Dr. Avelino Alexandre Collet, Confrade meu da Academia, o inventor brasileiro teria pedido experimentalmente enviar uma mensagem de um navio a outro a uma grande distância. O pedido foi negado. O fato em si é curioso, pois o positivismo, em si, estimula as ciências. A explicação é simples: como muitas vezes acontece – que daria até matéria suficiente para se escrever um trabalho do muitas páginas, surge aqui o malefício de muitos elementos ocupando o terceiro, quarto ou quintos escalão da administração pública. Esta gente costuma trocar alhos com bugalhos. Aqui os adversários políticos não tem a mínima chance. Um parente meu na Alemanha que tinha simpatias pelo KPD – partido comunista alemão – inventou o batiscafo, mas teve de ouvir um emaranhado de palavras sábias a respeito da impossibilidade de funcionamento deste aparelho, colimando num não.
Outra estupidez nascida a partir da falta de inteligência é a fama que algumas pessoas podem adquirir gratuitamente, quando vivem diferentes do normal. Depois de me aposentar e resolver enveredar para as ciências humanas, resolvi investigar as relações existentes entre política, psicologia e parapsicologia. Conheci razoavelmente a política, tendo militado tanto no Movimento Trabalhista Renovador e no Movimento Democrático Brasileiro. Sou trabalhista o que nunca escondi. Mas como são as pessoas que se envolvem em partidos de extrema esquerda e de extrema direita? Ou será que seria eu um medíocre e que possivelmente a verdade se encontre em atitudes mais radicais? Visitei tanto um escritor da extrema direita, como também um poeta da extrema esquerda. Devo confessar que meu espírito aberto para a compreensão de outras ideias fez com que fosse bem recebido por ambos os lados e compreendendo eu que em tudo pode existir no mínimo um pingo de verdade. Lamentei profundamente que o filho de Luiz Carlos Prestes a quem eu desejava conhecer de público, indiretamente me chamou de nazista, provavelmente por ter ouvido que frequentava a casa de um integrante da direita. Da mesma maneira queria eu estudar as pessoas à margem da vida. Visitei casas em que mulheres se ofereciam. Cometi inicialmente o erro de entrevistá-las, pensando na tragédia da vida delas. Mas depois mudei o tom dizendo que eu estaria ali com meus cabelos brancos, desejando recordar os bons tempos de minha juventude. Passar a falar de passagens que ou eu ou amigos meus viveram e logo encontrei um cenário diferente. Uma mulher me disse: Eu tinha um bom marido com quem me dei bem, mas, se eu soubesse que a putaria fosse algo tão bom, eu teria largado dele bem antes! Eu tinha que me reciclar para entender esta mentalidade tão diferente. Tentei em vão convencer algumas mulheres de dar adeus a tal vida. Parece que consegui convencer uma iniciante ainda em tempo. Parece, mas não tenho certeza. Do mesmo modo eu queria conhecer a vida de criminosos, mas vou confessar aqui: Na hora H fui tomado de medo. O meu ex-confrade o saudoso frei Rovílio trabalhou com criminosos, tentando mudá-los, mas ele confessou que a mentalidade deles é bem diferente da das outras pessoas. Que conhece meus estudos sobre psicologia sabe que estabeleci tipologias humanas, com características bem diferenciadas, conforme a função que exerciam no agrupamento humano da pré-história. Um tipo é o guerreiro e afirmo que esses são mais inteligentes que os trabalhadores de índole pacífica. Eu soube que o QI dos criminosos é maior que o das pessoas mais ou menos honestas. Lamento ser covarde!!!
Um trabalho muito interessante é o que se refere ao estudo da parapsicologia, indo a centros espíritas, lendo e experimentando. Claro fiquei aquém dos limites que procurei transpor, mas estou satisfeito, podendo dizer de alto e bom som que Shakespeare tinha razão ao dizer que entre o céu e a terra.
Há necessidade de entrarmos no estudo do mundo dos humanos com isenção de espírito e talvez neste ponto até mereço as palavras que muito me envaidecem da pena do meu amigo e futuro confrade da Academia Rio-Grandense de Letras Dr. Antonio Soares que meu livro Salvemos Deus seria: um ensaio muito sábio, um verdadeiro tratado de como pensar corretamente sobre temas e problemas como Deus, salvação, reencarnação, moral etc. Se Kant quase nos vencia e convencia com seu imperativo categórico da razão pura, Heino nos restitui a confiança que devemos ter em nossos modos de pensar e agir com base na inteligência prática.
Caro leitor, eu cheguei à conclusão aí que Deus existe, mas que é bem diferente do criado há cerca de cinco a dez mil anos. Mas independente do que o dileto amigo diz em sua crítica, posso estar enganado e ter vivido inutilmente, por nada ter conseguido pesquisar. Uso aquela porção de inteligência que meu DNA me deu e de um dia ao outro a bolha de sabão colorida pode se desfazer e estou como no início.
Mas não considero a minha vida desperdiçada, se algumas pessoas sem excesso de inteligência simplesmente me ignoram por seu silêncio. Continuem em silêncio, não digam nada, pois em matéria de non-sense até que já falaram demais.
Antes de passar à crítica para não ouvir depois isso ou aquilo – confesso estar saturado de ouvir bobagens – vamos elogiar a mídia: Tenho autoridade moral para fazê-lo, pois nos anos do governo de exceção (1964 a 1985) integrei o Movimento Democrático Brasileiro que se opôs à ditadura, sendo desejo meu restabelecer os direitos fundamentais do cidadão, e, em alguns casos estabelecer os mesmos, pois nem existiam, de fato, por mais que se dissesse o contrário. Para o que existe a mídia, acima de tudo? Em primeiro lugar, naturalmente é um negócio honesto, como também o é o supermercado. Em segundo lugar representa o povo em seus reclamos contra os abusos dos que governam. Leiam bem, eu disse representam o povo, mas não disse que sejam o povo e nem sei, se em muitos casos existe coincidência de pontos de vista. Para conhecermos bem como funcionam governos tirânicos, há necessidade de fazermos um raio-X de uma ditadura. Aristóteles classificou os governos em sua obra Política em governos naturais e degenerados. Falou da monarquia, da aristocracia e da república como governos naturais. Considerou como sendo o melhor uma monarquia comandada por um bom rei e aparecendo em ordem decrescente as outras duas. No caso dos governos degenerados, em ordem inversa, aparece, como melhorzinho ainda a democracia, em que na ágora de Atenas o povo em votação livre decidia a respeito do destino de seu país, aqui Ática. Em ordem decrescente de qualificação aparecem depois a oligarquia e finalmente, como pior, a tirania. Certo? Tomo a liberdade de divergir. Considero como forma única de governo, em última análise, a oligarquia. Todas as pessoas que já atuaram em alguma entidade – clube de futebol, sindicato, paróquia, repartição pública ou onde quer que seja – sempre se queixam do aparecimento daquilo que há quarenta anos se chamou de panelinha. Um grupo de amigos tomou conta da entidade. Caso ocorrer uma mudança, resultado, talvez de uma eleição, um outro grupo toma conta, se apossando do todo. Que isso seja feito abnegadamente, sem visar ganhos monetários, nem a pessoa mais ingênua não acredita. Por isso mesmo acho simplesmente ridículo ao criticarmos um regime ditatorial, examinarmos a fundo a vida e maneira de ser do ditador. Ali por 1970 apareceu um artigo em que era elogiada a pessoa de Adolf Hitler, alertando que o regime era o pior possível. Que urge sabermos disso, pois é bem possível aparecer por aí uma pessoa de grandes qualidades e que merece a confiança de todos pelos seus dotes de sabedoria e honestidade e num pleito incontestável o elegermos ditador. Cabe perguntar, se concomitantemente elegemos os seus auxiliares? Não! Isso não acontece nunca. Desde já, caso surja em alguém a ideia absurda de querer-me como ditador do mundo, já digo não energicamente, pois sei que dentro de pouco tempo sou completamente enrolado por auxiliares – muitos dos quais, sem dúvida alguma são pessoas de bem – que visam tudo menos o bem-estar da população. Grave bem em sua cabeça: Os ditadores geralmente – não, todos - são pessoas elogiáveis, mas os asseclas é que não prestam. E com isso todo o sonho de um mundo melhor através de uma pessoa excepcional no comando de um país é inviável. Falei das panelinhas que aparecem em todas as entidades, mas vou repetir aquilo que é dito por muitos em agrupamentos menores: Assuma a presidência e seja ditador. Dando-se ouvido a todos, nada conseguimos fazer a não ser morrer louco. Depois deste grande desvio do fim colimado por este artigo, voltemos. Em muitos jornais leio com muita atenção informações de ordem cultura e ligados com a ciência chamada história. Com isso pensei ter acumulado um bom baú de conhecimentos e alguém me chamou de enciclopédia de duas pernas, o que – não o digo por falsa modéstia – não confere pelos motivos antes referidos.
Realistas como somos, tendo descartado os ensinamentos de Aristóteles, não sonhamos com um bom rei, um novo Dom Pedro II para o nosso pais, mas aceitamos como certa a forma degenerada menos ruim, seja a democracia. Lógico, nessa consideração aparece um gancho a considerar. Nossas democracias não são diretas, mas representativas. O perigo de esta forma de governo se transformar em mera oligarquia está sempre presente. O eleitos podem sentar por aí e acertar benesses só para si mesmos e verem o resto do povo como sendo o resto que não voga e não importa.
Só depois destas considerações é que poderíamos pensar no início da análise da mídia, além do seu papel de meros comerciantes da publicidade. O condicional, porém, indica a existência de outro obstáculo a transpor. Acontece que nenhuma organização está livre daquilo que antigamente se chamava panelinha e aparecimento de políticas, disso não se livrando as empresas jornalísticas. Em várias oportunidades citei o grande poeta alemão Heinrich Heine que passou a trabalhar como jornalista em Paris. O que diz ele da imprensa francesa numa época em que era habitual, os governos censurarem a imprensa? É bem verdade que os jornais franceses publicam artigos que o censor alemão mais liberal não deixaria passar, mas existe a censura interna da imprensa francesa. Artigos que não agradam ao redator não chegam ao público! É meridiano entender que entre tais publicações, poderíamos também encontrar o que é de grande interesse da população. Em complementação a Heinrich Heine não caberia perguntar se não existem para a mídia pessoas – usemos uma expressão gauchesca - marcadas na paleta? Falo aqui de pessoas que podem ter como destino serem envolvidas na cerração do silêncio, seja, passar a não existir. Ao contrário, outros merecem um destaque que conforme muitos nos dizem, não deveriam ter por falta absoluta de méritos. Aqui cabe dizer que nisso não existe nada mais que amizade – em princípio nada criticável – que não deveria existir em se entendendo que a mídia é um serviço público, de fato.
Tem ainda um outro aspecto muito importante a considerar. Um publicista escreveu certa feita que ninguém se atreve a ser regente de uma orquestra sinfônica, escrever um livro sobre a pronúncia correta das palavras – com exceção de poucos entendidos – da língua suaíli, mas no que tange à política, todos se consideram experts. Podemos sê-lo até, pois nenhum político eleito pelo sufrágio universal pode ser tido como geio universal. Mas existem em matéria de administração pública dois fatores a considerar: Decisão correta e finanças capazes de viabilizar tal decisão. Quanto ao segundo ponto nem me manifesto, pois todos sabem que só vestindo cuecas não podemos ir a uma recepção no palácio governamental e diplomatas estrangeiros. Quanto às decisões cabe dizer que diversas decisões conseguem solucionar um problema e nem sempre a melhor é a mais indicada, pois nunca podemos descartar de todo, eventuais efeitos colaterais. Assim, muitas vezes temos de nivelar por baixo e ser a melhor solução aquelas que menor número de efeitos colaterais negativos apresenta. Nesta hora fácil é criticar, difícil, decidir corretamente. Assim o papel mais importante à mídia cabe evitar que se formem oligarquias mais criticáveis e que podem prejudicar os superiores interesses do povo que só através da mídia poderia exercer seu direito à livre manifestação de sua liberdade de manifestação.