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Panegírico à memória de Amir Feijó Pereira - José Édil de Lima Alves (12/03/2015)

14 de março de 2015


 
Ilustríssimo Professor, Doutor Sérgio Augusto Pereira de Borja
Digníssimo Presidente desta Academia Rio-Grandense de Letras,
Prezadas Confreiras,
Caros Confrades.
Distinta Senhora Suzana Rodrigues Endres, sobrinha de nosso homenageado.
 
Neste momento em que aqui estamos reunidos, conforme programado anteriormente, cabe-me a responsabilidade de prestar a homenagem póstuma desta Casa à memória do acadêmico Amir Feijó Pereira.
Alguns dos que aqui estamos tiveram a oportunidade de conviver com o ilustre homem de letras que foi o homenageado, conservando viva na memória, por certo, a imagem de uma pessoa calma, até um tanto retraída, mas sumamente afável e atenta, sempre disposta a colaborar no que a seu alcance estivesse para engrandecer o bom nome de nossa Academia.
Até sobrevir-lhe a doença que acabou por arrebatá-lo do nosso convívio, foi sempre o companheiro solícito a quem não faltavam palavras de estímulo para apoiar iniciativas fossem de ordem coletiva, fosse de ordem individual, atento às publicações dos membros deste sodalício que acontecessem tanto em nossa Capital, quanto em quaisquer outros lugares deste Rio Grande, do Brasil ou do exterior.
Amir Feijó Pereira nasceu em Bagé no dia 13 de dezembro de 1939. Filho de Aureo Palma Pereira e de dona Ana Pradelina Feijó Pereira, antes de completar o primeiro aniversário foi trazido para Porto Alegre, cidade que o acolheu e pela qual nutria viva admiração. Aqui realizou seus estudos primários e secundários. No curso superior, formou-se em Letras pela FAPA, dedicando-se ao magistério, tanto no ensino médio, como no ensino superior. No entanto, na qualidade de funcionário público estadual, preocupou-se em aprimorar sua formação na área da Administração Pública, realizando curso de pós-graduação na Fundação de Recursos Humanos e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Funcionário Público e Professor, exerceu suas atividades com zelo e destacada competência, sendo admirado por superiores, colegas e discípulos, como atestam os diversos diplomas e manifestações que recebeu ao longo de sua carreira. Mas, como bem destacou o saudoso Irmão Elvo Clemente, em discurso com que o saudou em sua posse nesta Academia Rio-Grandense de Letras,Amir Feijó Pereira jamais deixou de cultivar as Letras, dedicando a elas sua atenção e acendrado amor.
Em 1969 veio a público o primeiro dos catorze livros que editou ao longo de sua bem sucedida carreira de escritor. Lírica Poética saiu com o selo da Livraria Sulina Editora, sendo bem recebida pelo público e pela crítica. Seus dois livros seguintes saíram pela Editora Movimento, um empreendimento então recente capitaneado pelo Professor Carlos Jorge Appel e que se notabilizou desde seu surgimento no ano anterior, por publicar talentos novos e promissores, justamente o caso de nosso homenageado. Os livros foram, respectivamente A Palavra Tecida, em 1970, e Cúmplice Medida, em 1971.
Em depoimento oral prestado a este locutor, o Professor Carlos Appel recorda da figura de seu editado como alguém sumamente afável e um escritor que, desde sua estreia estava fadado ao bom sucesso, mercê de seu domínio do idioma e de sua acentuada veia lírica.
Já por ocasião de seu primeiro livro, Almir Feijó Pereira também frequentava as páginas do apreciado Caderno de Sábado, do Correio do Povo, na condição de ensaísta e crítico literário. Abordando a obra de diversos autores, a maioria dos quais já consagrados, mas sem descurar alguns jovens que estavam surgindo, Almir Feijó Pereira granjeou justa fama como disciplinado leitor e senso apurado para a análise e julgamento das obras literárias sob sua acurada observação.
Ainda na década de setenta, publicou A mensagem e o Tempo. Era o ano de 1975, e o poeta, ensaísta e crítico passava a atuar em diversas associações de pessoas unidas pelo apreço às Letras. Assim, tornou-se membro da Casa do Poeta Rio-Grandense, Nova Sociedade Partenon Literário e Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves, em cada uma desenvolvendo atividades como agitador cultural, esmerando-seno cumprimentodo que os estatutos de cada entidade prescrevia a seus sócios.
Curiosamente, suas publicações novas, porquanto as reedições eram constantes, somente vieram em 1996, com Fio da Meada, da Editora Alcance e Lembranças da Espanha, edição bilíngue, uma antologia da Orvalho Andaluz Editora. Espanto Adverso, da mesma Orvalho Andaluz Editora veio em 1997 e do mesmo ano e da mesma editora, apareceu Castro Alves, o Poeta da Liberdade, uma antologia de poemas. De 1997, da AGE Editora, apareceu Poemas do Amor e Pranto. Fechando o século vinte, ainda publicou O que não é parece, da editora acima citada.
Também contato por este locutor, o editor responsável pela AGE, Professor Paulo Ledur, exara sobre nosso homenageado impressões análogas às manifestadas pelo anteriormente citado, Professor Carlos Jorge Appel. “Era um espírito de escol e um escritor sumamente preocupado com o que produzia”, disse-me o referido Professor Ledur.
No início mesmo do século XXI, a AGE publicou Sanduiche em Poesia; nos anos seguintes, aquela editora deu ao público os seguintes títulos, um a cada ano: O Barato é Brincar; A Cara Alegre da Natureza, Canção da Sedução e O Sonho da Raposa, todos voltados para o público infantil e infanto-juvenil. Em 2008 a Editora Alcance publicou o último livro do nosso saudoso confrade: As Alegrias do Haicai.
Como registro de sua apreciada produção poética, leio:
 
CONVITE
vem amor esconder-me
contigo
afogarei as palavras
lavradas em nossas noites
 
quem assustou
o pombo que voa?
                               aqui terás a sede
aplacada
 
o mel e o creme
te servirei na manhã
das nossas despedidas
comungarás olhos glaciais
mas petas fugirão
para adornar teus sonhos de pouso
 
vem amor
                ocultar comigo
esse pulsar agreste
de vinho e tempestade
 
 
 
COMOVIDA TRÉGUA
 
invado
a dimensão
 
sobre o descanso
de pedra
 
e um painel revive
a ressureição harmônica
do amor
 
imagino
emotivo
o esquecimento da morte
para dissimular aldravas
removidas dos versos
 
Em sua fortuna crítica, pode-se anotar, dentre outros, nomes de escritores, ensaístas e críticos como Ramiro Frota Barcelos, Mário Quintana, Moysés Vellinho, Olinto Sanmartín, Dyonélio Machado, Augusto Meyer, José Eduardo Degrazia, Moacyr Scliar, Flávio Loureiro Chaves, Hugo Ramirez, Armindo Trevisan, Patrícia Bins, Tânia Franco Carvalhal e Jane Tutikian. Por ângulos diversos, cada uma analisa a produção do escritor, e todos são unânimes em destacar as grandes virtudes que encontram, seja nos assuntos abordados, seja na qualidade do tratamento da linguagem verbal.
 
Amir Feijó Pereira foi recebido neste sodalício em 2004, tendo por paraninfo o acadêmico, Irmão Elvo Clemente, e faleceu em Porto Alegre, no dia 17 de junho de 2013.
 
Em sua memória, convido a todos a observar um minuto de silêncio.
 
Muito obrigado.
 
 
(Discurso proferido em 12/03/2015, na sede da Academia, na Rua dos Andradas)

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 40

Alceu Wamosy

Alceu de Freitas Wamosy nasceu em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, em 14 de fevereiro de 1895, filho de José Afonso Wamosy e Maria de Freitas Wamosy. Es-tudou no Colégio Urugiiaianense, de sua cidade natal e em Alegrete. Jornalista desde a adolescência, Alceu Wamosy iniciou-se como redator de A Cidade em 1909 na cidade de Alegrete. Em 1911 já dirigia o mesmo.

Em Porto Alegre, foi redator, em 1915, de O Diário e A Federação. Em 1918, foi diretor em Santana do Livramento de O Republicano. Em 1923, com o início da Revolução...

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