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Saudação a Lauro Trevisan - Walter Galvani (30/06/2011)
30 de junho de 2011
Walter Galvani
Em 30 de junho de 2011
É um hábito consuetudinário, e uso esta palavra aqui de propósito, para rimar com este termo que, por vezes surpreende quem não a conhece, mas que está corretamente empregada: recipiendário. O termo está certo. Quem está entrando para a Academia, é “o recipiendário”.
É quem está recebendo uma honra, uma distinção especial.
É isto mesmo, e o uso deste termo até nos faz atentar para o fato de que este é um momento extraordinário na vida de um escritor: ser recebido pelos seus pares, entrar para a Academia.
Desejo de tantos, sonho de muitos, possibilidade de poucos.
Então, hoje, o recipiendário, com toda a justiça, é o escritor Lauro Trevisan, ou o Padre Lauro para os que são fieis do seu rebanho, aqueles que ouvem os seus ensinamentos e devem propagá-los aos quatro ventos, como se dizia na antiga linguagem bíblica. Hoje, os ventos são muito mais diversificados, e a língua que se fala sofre até tentativas de doma, as quais resistem por se saber dinâmica e mutante.
Temos vividos tempos novos e surpreendentes, querido Lauro Trevisan, cujo sobrenome nos recorda a origem nacional dos seus ascendentes, geográfica e logicamente também muito sob o ponto de vista cultural, a província de Treviso, Itália. Porque “ele” não se pertence, nem a si mesmo, nem aos seus conterrâneos, nem aos seus ascendentes. Ele é de todos, conforme já provou e comprovou com uma obra matizada pelas mais surpreendentes revelações e, sem dúvida, inquietações.
O Acaso (dizem alguns que o acaso não existe) nos reservou uma surpresa a mais: esta cerimônia se realiza exatamente no dia em que se assinalam 564 anos da impressão do primeiro livro em língua portuguesa. Não é uma data redonda, mas vale à pena. E muito. Por casualidade, prezado Padre Lauro, estimado presidente Francisco Pereira Rodrigues, integrantes da Academia Rio-Grandense de Letras, estimados confrades, distintos convidados, o “Pentateuco”, do Antigo Testamento, a Bíblia, teve seus cinco primeiros livros “Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio”, traduzidos do aramaico pelo português Samuel Porteiro e impresso pelo editor Gacon, em Lisboa, no dia 30 de junho de 1447.
O cultivo da Memória, penso eu, é uma exclusividade dos seres inteligentes e a sua preservação, através dos livros, (monumentos como este edifício onde estamos reunidos que abriga o Memorial do Rio Grande do Sul, e por isso merece receber nossa homenagem), descobrir-lhe suas tramas, desvendar seus segredos ou preservar seus mistérios é obrigação de cada um que ajuda a perpetuar a passagem desta espécie sobre a Terra.
Sinto-me honrado, pois, em vos falar neste local e neste momento, para homenagear nosso mais novo confrade, o escritor Lauro Trevisan.
Aliás, quando lhe perguntam a profissão, costuma responder: - “Escritor, conferencista, padre”. Nessa ordem. Escritor em primeiro lugar.
E se fosse, digamos, Deus?
- “Nesse caso impossível é claro – responde ele - demitiria a pobreza, a violência, a doença e a ignorância, e proclamaria a era do amor e da fraternidade universal!”
Bem, e pensemos numa coisa mais terrena: se fosse presidente da república?
- “Investiria tudo o que pudesse para alcançar o pleno emprego. Seria a redenção do ser humano: sustenta a família, ajuda nas enfermidades, promove a escolaridade e dá razão para viver!”
Lauro Trevisan nasceu a 14 de agosto de 1934 em Santa Maria.
Esta cadeira nº 28, que passa a ocupar na Academia Rio-Grandense de Letras, tem como patrono o santamariense por adoção, João da Silva Belém, escritor, teatrólogo, poeta.
Seu último ocupante, Antonio Augusto Ferreira, escritor, poeta e compositor, nascido em São Sepé, mas que viveu longos anos em Santa Maria, onde era membro da Academia Santamariense de Letras, faleceu em 2008. Mas, ambos altamente representativos do pólo cultural que é Santa Maria.
Nada mais justo pois do que receber um novo santamariense, nesse caso, efetivamente natural daquela grande cidade, cuja contribuição às artes e às letras, tem sido tão permanente e significativa em nosso estado.
Lauro Trevisan, filho de Maria Helena Rorato e Cezar Trevisan, iniciou seus estudos no Colégio Coração de Maria, no bairro Dores em Santa Maria e aos 11 anos entrou para o Seminário Rainha dos Apóstolos de Vale Vêneto. Cursou Filosofia e Psicologia no Seminário Maior em São João do Polêsine e depois no Colégio Palotino de Santa Maria.
Também faziam parte do currículo, os cursos de Ascese (espiritualidade), exegese do Evangelho e Oratória.
Refez a Filosofia nas universidades de Passo Fundo e Florianópolis, cursou Psicanálise Clinica, depois Jornalismo e fez cursos especiais de Parapsicologia, Análise Transacional, Administração, Controle da mente, os Novos Domínios da Consciência.
Ordenou-se sacerdote em 1959.
Foi diretor e redator da revista Rainha, de Santa Maria, durante 15 anos.
Editou revistas para crianças e adolescentes, montou uma gráfica, e passou a viajar e dar conferências. Já falou para mais de 500 mil pessoas.
Seu livro, “O poder infinito da sua mente” foi lançado em 1980 (hoje está na 15ª edição) e de lá para cá já escreveu mais 67 livros abrangendo todos os gêneros literários: psicologia, religião, pedagogia, recursos humanos, contos, parábolas, autoajuda, humorismo, peças teatrais, comédias, literatura para adolescentes, para jovens, romances, poesia e psicanálise.
Também foi colunista do jornal “A Razão” de Santa Maria, atuou em rádios da região, criou a Livraria Cultural da Mente, a Editora Rainha para as revistas, e recebeu homenagens no país inteiro, como o título de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro, a Medalha Tiradentes também do estado do Rio, Cidadão de Juiz de Fora, recebeu em sua terra o Prêmio Prado Veppo, o Prêmio Imembuí, Mérito Empresarial, Mérito Industrial e o Mérito Literário pela Academia Santa-Mariense de Letras, da qual é um dos fundadores.
O Lauro Trevisan viaja, dá conferências, mas escreve e muito e por isso está sendo recebido aqui nesta Academia Rio-Grandense de Letras.
E continua a escrever muito, além de haver criado o Teatro Santa Maria e a Casa de Península, de se preocupar com os amigos e colegas.
E de escrever coisas como “O ser humano é essencialmente bom. Tem o DNA da felicidade. Nasceu para ser feliz. Felicidade é sentir-se bem consigo mesmo, com a Humanidade, com o Universo e com Deus!”
Perguntado sobre a criatura humana, escreveu:
“A criatura humana está assentada sobre quatro colunas básicas existenciais: sabedoria para criar e discernir; liberdade para escolher; poder para realizar e felicidade como estado de ser”.
Na lista enorme dos seus livros, há desde “O centurião que espionava Jesus a mando de Pilatos”, que considera o “seu predileto” até aquele que é o predileto de muita gente, “A Fé que remove montanhas” e que já passou de 14 edições.
Bem, mas se vamos falar em recordes, então não se pode deixar de citar o “Poder infinito de sua mente”, que tem, pasmem: 515 edições e já passou de um milhão de exemplares.
Ou quem sabe leiam o seu “O Homem Só”?
O Lauro Trevisan é um simples, marca característica da sua família de padres e intelectuais, de poetas e escritores, que deixam sua marca de simpatia por onde passam.
Considerado um fenômeno, estimado por onde anda, tem um dos seus pousos obrigatórios em Lisboa, onde amealhou um grande grupo de amigos que sempre perguntam, quando alguém do sul passa por lá, por onde anda ele? Japão ou Santa Maria?
Para nós, que sabemos onde encontrá-lo em Lisboa, poderia estar no bairro Arco do Cego. Lá perto da Praça de Londres, Avenida de Paris. É por lá.
Bem, agora, ele está no meio de nós.