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Saudação a José Nedel - José Carlos Laitano (28/09/2017)

29 de setembro de 2017


Excelentíssimo senhor Doutor Avelino Alexandre Collet, digníssimo Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras, na sua pessoa saúdo as autoridades, acadêmicos, parentes do homenageado e amigos.
 
Manda a tradição que a recepção inicie pela biografia do novo acadêmico, dizer dos seus estudos, dos seus feitos culturais e educacionais, dos seus textos.
Dr. José Nedel fez a sua parte e encaminhou resumo do seu currículo; o resumo possui 38 páginas, espaço um, papel A4 quase sem margens. Lendo às pressas, precisaria de 190 minutos, ou 3 horas. Bem, se os senhores quiserem...
 
Permito-me, contudo, falar da sua pessoa, da sua existência, afinal é o que importa.
José Nedel é um filósofo simples, como simples é o seu nome.
Alguém há de ter dito que a humildade só cabe numa grande e expressiva pessoa.
Na lição de Mira Y López, em obra que me acompanha há quarenta anos, ele escreve que "o vaidoso procura convencer-se de que não tem motivo para se sentir inseguro posto que julga valer mais do que os outros. Mas sua vaidade indica que está convencido justamente do contrário". "A vaidade é vã, vazia, ineficaz, inoperante", afirma o mestre.
A humildade em geral está casada com a generosidade e a pessoa generosa é aquela satisfeita consigo mesma, disposta ao outro, pronta para servir o próximo.
Assim é José Nedel, o nosso novo acadêmico, amigo, irmão.
Ele é filósofo. E como filósofo não se comporta como sábio, mas como aquele que pergunta, que investiga a natureza humana e a possibilidade de se obter a felicidade.
A Obtenção da Verdadeira Felicidade é um dos seus textos enquanto professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, na Unisinos.
Nesse estudo, Nedel conclui que:
“A noção de felicidade, para o homem atual, tornou-se subjetiva, reduzida que foi ao sentimento de ser feliz. Para muitos conota à inclinação egoísta que faz referir tudo ao interesse individual. Orientado pelo utilitarismo para a satisfação do seu bem-estar material, o desejo de felicidade perdeu seu elã espiritual propulsor do agente na direção da virtude, com vistas ao fim último da vida.”
 
E, mais ao final, observa Nedel que o desejo de felicidade é natural e tudo consiste em discernir onde reside a verdadeira felicidade.
A generosidade em José Nedel está descrita no seu poema DOAÇÃO:
 
Quem faz da sua vida um dom aos seus irmãos
também se lucra inteiramente para si.
Ao me engajar em falsos egoísmos vãos,
em vez de engrandecer-me, sempre decresci.
 
Segundo o verbo da Sagrada Escritura
melhor do que outro feito singular qualquer
é de si próprio, de seus bens ou da cultura
aos outros dar, em vez de apenas receber.
 
Dai e se vos dará, ressoa tal preceito
que muitos cumprem com intenso desagrado,
ao caráter do homem joga-se o defeito
aos bens terrenos acabou escravizado.
 
Difícil é doar, se assim a gente pensa.
Não é – pois haverá divina recompensa.
 
E, para finalizar, trago a palavra do poeta, que José Nedel é filósofo e poeta, e na poesia ele assina o seu modo de existir. O título: MULTIPLICAÇÃO.
 
Cinco pães, não os tenho nem dois peixes
para a mesa da multiplicação.
Mas de versos possuo muitos feixes
deles eu formarei minha oblação.
 
Valho-me aqui da mística que soa
não só de pão o homem se alimenta
mas também de palavra, santa ou boa
que o espírito sacia e dessedenta.
 
Meus versos, quero vê-los degustados
sem travo, rejeição e sem dilemas
como se fossem pães multiplicados
da minha humilde cesta de poemas.
 
Milagre assim, sem dúvida, acontece
desde que a gente a repartir comece.
 
José Nedel é grande como intelectual e maior como pessoa.
Seja bem-vindo, confrade, o recebemos com braços abertos.
 
 
 
 
José Carlos Rolhano Laitano
28 setembro 2017

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 14

Fontoura Xavier

Antônio da Fontoura Xavier nasceu em Cachoeira do Sul, interior do estado do Rio Grande do Sul, em 07 de julho de 1856 filho de Gaspar Xavier da Silva e Clarinda Amália da Fontoura Xavier. Estudou Humanidades no Rio de Janeiro de 1870 a 1873. Iniciou em 1874, no Rio de Janeiro, o curso de Engenharia, mas acabou não o concluindo. Em São Paulo, formou-se bacharel em Direito.

Jornalista desde a mocidade, fundou em 1876 A Gazetinha. Foi redator da Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro, e em 1884 de A Federação. Ingressou na carreira consular em 1885, servindo...

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