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Discurso de Posse na Cadeira 05 - Maria da Glória Jesus de Oliveira (27/08/2015)

01 de setembro de 2015

Excelentíssimo Senhor Doutor Sergio Augusto Pereira de Borja, presidente da Academia Rio-Grandense de Letras,
Excelentíssimo Senhor Doutor Avelino Alexandre Collet, vice-presidente da Academia, eminente Procurador de Justiça e meu colega do Ministério Público,
Excelentíssimo Senhor Rafael Bán Jacobsen, Secretário da Academia,
Excelentíssimo  Acadêmico Senhor Doutor António Filipe S. Neiva Soares, meu digníssimo proponente e que me honra com as brilhantes palavras que me tornam enrubescida,
Digníssimos acadêmicos, cuja presença me encanta e eleva,
Autoridades presentes ou representadas,
Amados familiares,
Queridos amigos,
Senhoras e senhores    
           
Se me permitem, quero fazer o que fez Dona Carlota Joaquina ao embarcar para Portugal: bater os sapatos na proa da embarcação, para não levar, da terra que deixou, nem pó.
Mas desejo praticar o referido gesto com outro sentido. Limpar meus calçados para adentrar a este sodalício com a pureza que ele merece. 
Fazer parte do quadro acadêmico da Academia Rio-Grandense de Letras e ter a permissão de nomear os ilustres ocupantes das cadeiras e chamá-los de colegas, exige-me um ato de purificação.
Vim da terra de Anita, onde, aos cinco anos de idade trabalhei descascando camarões e aos dez plantando cebolas, para hoje apreciar uma boa luta literária e ter um gosto apurado para um refogado de camarão e, é claro, com bastante cebola.
Bendigo o solo que me viu nascer e ao torrão que me acolheu e me deu oportunidades de sobreviver e viver para a glória de, hoje, desta tribuna, falar da gratidão e da imerecida honra de ocupar a cadeira número 5, cujo patrono é BERNARDO TAVEIRA JÚNIOR, e poder, doravante, ser chamada de imortal.
A menina de vestido de chita e de pés descalços ousou alçar voos. Porém, não pensou chegar a tão alto. Nem mesmo agora consegue entender por que granjeou o olhar de um nobre acadêmico que a fez sonhar com outro mundo, outras possibilidades. E ei-la diante dos senhores, pedindo complacência, acolhida e paciência.
Cumpre-me, com alegria, contar quem é meu patrono.
Bernardo Taveira Júnior, Filho de Bernardo Taveira e Gertrudes Maria de Melo, nasceu na cidade de Rio Grande em 05 de julho de 1836 e faleceu na cidade de Pelotas aos 19 de setembro de 1892.
Depois de breves estudos em São Paulo, na Faculdade de Direito, e de um emprego no comércio no Rio de Janeiro, adoece e retorna para o sul, em 1856. Durante sua convalescência em uma estância passa a apreciar o modo de viver dos gaúchos.
Após seu casamento, em 1862, muda-se para São Gabriel, onde  mora por quatro anos,  e abre uma escola.
Retornando a Pelotas em 1866, abre outra escola, e continua exercendo a mesma profissão até seus últimos dias.
Autodidata, foi um dos mais fecundos trabalhadores das letras gaúchas no século XIX.
Notável poliglota, conhecia francês, alemão, espanhol, sueco, dinamarquês, latim, grego, guarani e sânscrito. Traduziu do alemão alguns livros, entre os quais Guilherme Tell de Schiller, em versos; e do francês a primeira parte da Memórias de Garibaldi, de Alexandre Dumas, Expiação e Epopeia do Leão, de Vitor Hugo, e a A reconciliação de Tieck.
Defensor do abolicionismo e da república, publicou diversos artigos em jornais. Editou a maior parte de sua obra na Revista da Arcádia.
Cultivou quase todos os gêneros, destacando-se em todos os setores da inteligência em que excursionou.
Em Pelotas, exerceu o magistério particular, lecionando Português, Latim e História. Ali se fixando em 1866, definitivamente, teve participação na imprensa da cidade de Rio Grande e no Jornal Diário de Pelotas, colaborando em diversos periódicos e revistas de seu tempo.
Faleceu após prolongada enfermidade.
Publicou: Poesias Americanas, Rio Grande, Tipografia da Arcádia, 1869; Poesias Alemãs, com prefácio de Carlos von Koseritz, e que teve duas edições, 1873 e 1884, sendo a última através da Gundlach e Cia., Porto Alegre; Provincianas, Livraria Evangélica, Rio Grande, 1886.
Publicou ainda três poemas: Primus inter pares, à memória de Alexandre Herculano, 1877; Ave Poeta, à memória de Vitor Hugo, 1885; o Enterro, a respeito da libertação dos escravos, 1888.
Teve publicada a primeira parte de Memórias de Garibaldi, tradução de Alexandre Dumas.
No Jornal do Comércio, Pelotas, 1874, deixou um drama de titulo Paulo e um grupo de poesias intitulado Poesias Patrióticas. Deixou inéditos três volumes: Bagatelas Poéticas, Evoluções Poéticas e Avulsas.
Por outro lado, deixou nos números da Arcádia ideias de natureza crítica, onde se pode encontrar as principais concepções sobre a arte literária em voga no Estado a partir de segunda metade do século.
Colaborou na revista da Sociedade Partenon Literário, da qual fez parte; no “Progresso Literário” e na “A Ventarola” de Pelotas, bem como no “O Tempo” de Rio Grande.
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O ocupante anterior da cadeira número cinco foi o poeta Amir Feijó Pereira, de quem me honra contar um pouco da brilhante trajetória.
Nasceu em Bagé, RS, no dia 13 de dezembro de 1939. Filho de Aureo Palma Pereira e de dona Ana Pradelina Feijó Pereira, antes de completar o primeiro aniversário foi trazido para Porto Alegre, cidade que o acolheu e pela qual nutria viva admiração.
Licenciou-se em Letras pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras (FAPA) e lato sensu em Literatura brasileira e Literatura Infanto-Juvenil pela PUCRS.
Atuou como professor de Português e Literatura de Língua Portuguesa nos ensinos médio e superior.
Na qualidade de funcionário público estadual, preocupou-se em aprimorar sua formação na área da Administração Pública, realizando curso de pós-graduação na Fundação de Recursos Humanos e na PUCRS.
Exerceu as atividades de funcionário público e de professor com zelo e destacada competência, sendo admirado por superiores, colegas e discípulos, o que atestam os diversos diplomas e manifestações que recebeu ao longo da carreira.
Aposentou-se como servidor público estadual no cargo de Assessor Administrativo na Secretaria da Saúde e Meio Ambiente.
Como bem destacou o Irmão Elvo Clemente, em discurso com que o saudou em sua posse nesta Academia Rio-Grandense de Letras, Amir Feijó Pereira jamais deixou de cultivar as Letras, dedicando a elas atenção e acendrado amor.
Em 1969, veio a público o primeiro dos catorze livros que editou ao longo de sua bem sucedida carreira de escritor. Lírica Poética saiu com o selo da Livraria Sulina Editora, sendo bem recebida pelo público e pela crítica. Seus dois livros seguintes saíram pela Editora Movimento:  A Palavra Tecida, em 1970, e Cúmplice Medida, em 1971.
Já por ocasião de seu primeiro livro, Almir Feijó Pereira também frequentava as páginas do apreciado Caderno de Sábado, do Correio do Povo, na condição de ensaísta e crítico literário. Abordando obra de diversos autores, a maioria dos quais já consagrados, mas sem descurar alguns jovens que estavam surgindo, Almir Feijó Pereira granjeou justa fama como disciplinado leitor e senso apurado para a análise e julgamento das obras literárias sob sua acurada observação.
Ainda na década de setenta, publicou A mensagem e o Tempo. Era o ano de 1975, e o poeta, ensaísta e crítico passava a atuar em diversas associações de pessoas unidas pelo apreço às Letras. Assim, tornou-se membro da Casa do Poeta Rio-Grandense, Nova Sociedade Partenon Literário e Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves, em cada uma desenvolvendo atividades como agitador cultural, esmerando-se no cumprimento do que os estatutos de cada entidade prescrevia a seus sócios.
Curiosamente, suas publicações novas, porquanto as reedições eram constantes, somente vieram em 1996, com Fio da Meada, da Editora Alcance e Lembranças da Espanha, edição bilíngue, uma antologia da Orvalho Andaluz Editora. Espanto Adverso, da mesma Orvalho Andaluz Editora, veio em 1997, e do mesmo ano e da mesma editora, apareceu Castro Alves, o Poeta da Liberdade, uma antologia de poemas. De 1997, da AGE Editora, apareceu Poemas do Amor e Pranto. Fechando o século vinte, ainda publicou O que não é parece, da editora acima citada.
No início mesmo do século XXI, a AGE publicou Sanduíche em Poesia; nos anos seguintes, aquela editora deu ao público os seguintes títulos, um a cada ano: O Barato é Brincar; A Cara Alegre da Natureza, Canção da Sedução e O Sonho da Raposa, todos voltados para o público infantil e infanto-juvenil. Em 2008, a Editora Alcance publicou o último livro do nosso saudoso confrade: As Alegrias do Haicai.
Além de livros individuais, publicou também em mais de trinta antologias e coletâneas, tendo recebido dezenas de premiações em todo o Brasil, destacando-se a classificação no Concurso Poemas no Ônibus, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1998; a Medalha do Mérito Presidente Juscelino Kubitschek, outorgada pela Revista Brasília, 2002; e a Medalha do Mérito Acadêmico, outorgada pela Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, 2004.  
Tomou posse na Academia Rio-Grandense de Letras em 2006, na Cadeira nº 5, sucedendo a Luiz Carlos Barbosa Lessa, ocasião em que foi saudado pelo acadêmico Elvo Clemente.
Faleceu em Porto Alegre, em 17/06/2013.
 
Emocionada, comovida e profundamente grata, encerro minhas palavras. 
Ao bom Deus, que até aqui me conduziu, rogo as inalteradas bênçãos.
Obrigada.
 
 
 
 

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 21

Alfredo Ferreira Rodrigues

(por Avelino Alexandre Collet)

O acadêmico Alfredo Ferreira Rodrigues, nasceu no dia 12 de setembro de 1865, no distrito de Povo Novo, município de Rio Grande, faleceu em Pelotas no dia 8 de março de 1942, com 77 anos.

Exerceu ao longo da vida várias atividades, como professor, comerciante, industrialista e viajante comercial.

Em plena juventude revelou seu apurado gosto pela literatura. Foi revisor da Livraria Americana, em Pelotas, em 1887. E pela sua proficiência foi guindado à gerência desse estabelecimento gráfico na cidade de Rio Grande, período de tempo...

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