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Saudação a Colmar Duarte - José Édil de Lima Alves (27/05/2014)

27 de maio de 2014

Ilustríssimo Escritor
SÉRGIO AUGUSTO PEREIRA DE BORJA
Mui Digno Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras
Demais autoridades componentes da mesa diretora dos trabalhos, citadas pelo protocolo
Caros Confrades e Prezadas Confreiras
Ilustres Senhoras e Dignos Senhores
Prezado Escritor Colmar Pereira Duarte 

É sempre motivo de justificado júbilo para os membros da Academia Rio-Grandense de Letras a solenidade de recepção de uma escritora ou de um escritor eleito para ocupar uma cadeira neste sodalício e que passará a integrar os seus quadros como titular.

Dever do Paraninfo, discorrer minimamente sobre a vida e a obra do recipiendário.

No presente caso, uma enorme satisfação para mim, pois cabe-me a tarefa de, falando por este plenário, receber Colmar Pereira Duarte, um homem cujo prenome que lhe foi dado ao nascer como que lhe predizia o futuro.

Sim, pois o verbo transitivo colmar, seja em português, seja em espanhol, significa “elevar ao ponto mais alto, sublimar, tornar completo, rematar, cumular, encher”.

Em uma de suas magistrais reflexões, disse o Pe Antônio Vieira que o nome é tão importante na vida de cada um que a pessoa, ou adapta-se ao significado do nome, sempre se esforçando para mantê-lo ilustre, ou dá-lhe um significado próprio, elevando-o muito acima do entendimento da média das pessoas.

Assim, um César, um Alexandre, um Aníbal, um Napoleão, recordarão quem foram tais personagens na História da Civilização Ocidental e esforçar-se-ão para também deixar assinalada suas trajetórias ao logo da existência terrena.

Já um José, um Antônio, um Joaquim, um João, terão de esforçar-se para cometer feitos que os distingam do comum dos Josés, dos Antônios, dos Joaquins, dos Joões, para distinguirem-se, deixando seus nomes assinalados por seus feitos.

No caso em tela, ouso dizer que a segunda acepção na reflexão do ilustre sacerdote é a que se aplica a nosso recipiendário.

Sim, porque a partir dos possíveis significados do verbo em nossos dois idiomas latinos, nosso ilustre confrade, em momentos, por sua vida e seus feitos ilustrou o verbo que nele foi substantivado, elevando-se ao ponto mais alto dos lugares onde esteve e está, tornando sempre mais completa as obras de que tem participado ao longo de sua brilhante trajetória, enchendo de brilho o quanto fez e faz, sem nunca deixar de lado a modéstia, consciente do seu valor, mas sem a soberba dos que se têm por únicos.

Este escritor de quem falo nasceu em 21 de maio de 1932, no interior do município de Uruguaiana, RS, na localidade de João Arregui, primogênito do casal Luiz Duarte Júnior e Alice Pereira Duarte.

Tendo estudado as primeiras letras na campanha, sob a segura e competente orientação da mãe, mais tarde, já alfabetizado, seguiu para a sede do município para frequentar a escola formal.

Já na cidade, em meio a seus colegas de aula e de colégio, embora não fosse propriamente um huraño, na expressão castelhana que ainda usamos para os arredios, não é menos verdade que se ressentia da falta de seu ambiente em meio à vastidão do pampa.

E isso é tanto verdade que se comprova pela atitude que tomou ao ter concluído

o curso ginasial, no Colégio Sant’Ana, administrado pelos Irmãos Maristas.

Por mais que seu pai insistisse para que fosse completar seus estudos em Porto Alegre, teimou em ficar em sua terra, literalmente, no Touro Passo onde seu pai fixara residência, ao sair da localidade lindeira de João Arregui.

Para contemplar a teimosia do filho, seu Luizinho, como era conhecido na redondeza e na cidade, não menos teimoso, permitiu que o filho ficasse na campanha, mas proibiu-lhe de exercer qualquer atividade fosse na casa, fosse nos campos. Tinha cama, comida, roupa lava e passada, no entanto não podia fazer nada desta triste vida! Quando muito encilhar um matungo e dar uma voltinha pelo campo, mas sem licença para sequer laçar algum terneiro, curar alguma bicheira e essas coisas triviais de qualquer índio criado nessas solidões dos campos.

Lá de vez em quando, era-lhe permitido ir a Porto Alegre, visitar os amigos que estudavam ou o Anchieta, ou no Rosário, algum no Julinho, pela altura do segundo grau. Com o passar dos anos, frequentando já cursos de Medicina, Direito, Veterinária ou Agronomia.

Sim, porque o castigo pela teima e enfrentamento com a decisão paterna durou nada mais nada menos do que sete longos anos.

Durante o longo tempo em que “Jacó serviu Labão, pai de Raquel, serrana bela”, Colmar teve a rara felicidade de ser assistido por um tio paterno que, condoído com a sorte do sobrinho, leva-lhe livros e mais livros em português, espanhol e mesmo algum em francês, e orientava o adolescente/já homem feito nas leituras, análises, interpretações e críticas dos textos que o futuro escritor devorava com paixão.

Assim que naquele período do “exílio medonho” e afastamento do que mais gostava, o trabalho com o gado vacum, ovino e cavalar, o divertimento com as corridas de cavalo, em cancha reta, as reuniões com amigos ao pé do fogo, saboreando um mate amargo, Colmar compensou, se assim se pode dizer, com as leituras dos clássicos da literatura ocidental, dedicando ao que se produzia no Rio Grande do Sul uma atenção especial, sempre atento às lições do tio Dario.

Mas, como “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”, ao completarem-se os benditos sete anos, seu Luizinho confiou-lhe a capatazia da estância, dado por encerrado o período do (in)merecido castigo.

A par das responsabilidades administrativas que estava maduro para assumir, Colmar não se afastou dos livros e de suas produções que há tempos ensaiava, colecionando-as nas inúmeras gavetas, em cadernos e folhas avulsas, manuscritas caprichosamente.

E com o tempo foi desabrochando o poeta, o cronista, o contista, o romancista, e aos poucos foram sendo publicados seus trabalhos nas áreas de pesquisa, ensaio, teatro, dança, desenho e folclore.

Estabelecendo-se também com casa na cidade, logo apareceram suas colaborações no rádio e no cinema.

Hoje, tem oito livros editados: Sesmaria dos Ventos (1979), Cancha Reta (1986), Cardo (1993), Tempo de Viver (2000), Califórnia da Canção Nativa – Marco de Mudanças na Cultura Gaúcha (2001), este, em co-autoria com José Édil de Lima Alves, Romanceiro da Salamanca (2002) e O Jardineiro Cego & Mamboretá (2004).O Correntino e Outros Causos (2006).

Também com o título “Tempo de Viver”, no ano 2000 lançou um CD com 14 poemas de sua autoria.

É autor de obras para balé, criadas especialmente para o Balet Brandsen, de Buenos Aires (Argentina), como Curuzu Gil e Garibaldi e Anita, e de uma transposição para balé da Lenda da Salamanca do Jarau, apresentada em Cosquin – república Argentina – em 1976, como convidada especial da Noite de Integração Americana. Esta obra, em 1974, foi apresentada na Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, e em breve temporada no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre.

O balé da Salamanca do Jarau é considerada a primeira co-produção brasileiro-argentina para teatro.

Também no teatro, foi premiado com a peça denominada Fogões do Rio Grande, apresentada na Primeira Festa Nacional de Lã.

É autor de várias letras de canções gravadas e de outras tantas inéditas. E fundador do Grupo de Arte Nativa “Marupiaras” que obteve vários prêmios na Primeira CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA, inclusive a Calhandra de Ouro, como vencedor do festival.

Foi Patrão (presidente) do Centro de Tradições Gaúchas Sinuelo do Pago, do qual é Sócio Benemérito. Presidiu o Conselho de Cultura, foi Coordenador de Cultura e Diretor do Centro Cultural de Uruguaiana.

É membro do Instituto Histórico e Geográfico desse município e igualmente membro do Conselho da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.

Possui diversos trabalhos de pesquisa sobre temas gaúchos, muitos já publicados em jornais e revistas, outros ainda inéditos.

Organizou o Museu Crioulo do Centro Cultural de Uruguaiana.

Acrescentou ao patrimônio do CTG Sinuelo do Pago, o acervo do “Museu do Piá” - único em seu gênero - que recebera de Glaucus Saraiva.

Na década de 80, foi um dos dez autores gaúchos, escolhidos pela Fundação Padre Landel de Moura (Feplam) para participar do projeto denominado “Os Imortais do Rio Grande”.

É o idealizador e um dos criadores da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul. São de sua autoria o projeto, o primeiro regulamento, a criação das Linhas, o nome e o troféu-símbolo – A Calhandra de Ouro.

É membro da Comissão Binacional pelo Meio Ambiente – Uruguaiana/Paso de los Libres e um dos fundadores da Associação de Escritores Sem Fronteiras, que reúne literatos da Argentina, do Uruguai e do Brasil, no interesse de uma efetiva integração cultural e tem assento no Conselho de Educação e Cultura do município de Uruguaiana.          

Entre os Prêmios recebidos encontram-se:

1970 – Primeiro Prêmio de Folclore - Associação Literária -Uruguaiana

1970 – Primeiro Prêmio em Música - Concurso Estadual - Santa Maria

1970 – Primeiro Prêmio de Fotografia - Concurso Estadual -Santa Maria

1971 – Calhandra de Ouro - Primeira Califórnia - Uruguaiana

1980 – Primeiro Prêmio de Poesia - Academia de Letras -Uruguaiana

1983 – Chasque de Ouro da Poesia - Concurso Estadual -Livramento

1991 – Clave de Ouro – Personalidade do Nativismo da Década de 80 – Porto Alegre

1992 – Primeiro Prêmio – Troféu Bento Gonçalves - Triunfo

1995 – Medalha de Ouro do Município - Uruguaiana

1999 – Primeiro Prêmio da “Sesmaria da Poesia Gaúcha “ - Osório

2000 – Troféu “Líderes e Vencedores – Expressão Cultural” - Federasul e Assembléia Legislativa– Porto Alegre.

2002 – Primeiro Prêmio da “Carreteada da Poesia” de São Valentim -S. Maria

2003 – Primeiro prêmio do “Seival da Poesia Gaúcha” - São Lourenço do Sul.

2003 – Medalha de Mérito Literário – “ Aureliano de Figueiredo Pinto”, oferecida pela Ass. dos Pajadores e Declamadores Gaúchos.

2003 – Poeta Homenageado, na “Sesmaria da Poesia Gaúcha” - Osório.

2004 ­-Troféu Cultura Gaúcha – 50 anos, instituído pelo Governo do Estado – Porto Alegre.

2005 – Título de “Conselheiro Honorário” do Movimento Tradicionalista Gaúcho – Porto Alegre.

2005 – Troféu Guri, instituído pela Rádio Gaúcha – RBS – Porto Alegre

2005 - Troféu Negrinho do Pastoreio, instituído pela Associação Gaúcha Municipalista e Assembléia Legislativa – Porto Alegre

2006 – Presidente de Honra do II Encontro Literário Internacional do Mercosul Realizado pelo Instituto Literário e Cultural Hispânico - Uruguaiana – Paso de los Libres

2006 – Poeta homenageado do Corredor de Canto e Poesia Associação Cultural Nativista - Lages – Santa Catarina

Haveria ainda muito mais a dizer sobre a presença e produção deste verdadeiro ícone da cultura sul-rio-grandense, mas não devo abusar da atenção que todos neste auditório estão-me dispensando. Pelo que, encerro por aqui, desejando a este novo membro da nossa Academia Rio Grande de Letras – que provou ao Patrono de sua Cadeira de Número 40, o grande Poeta Alceu Wamosy, que Uruguaiana tinha todas as condições, sim, para produzir grandes poetas que nada deveriam a suas irmãs por este Rio Grande de São Pedro.

Prezado escritor Colmar Pereira Duarte, felicidades e que te sintas acolhido neste sodalício que se honra com a tua posse.

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 32

Pedro Velho

Pedro de Castro Velho nasceu em Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, em 29 de junho de 1879, sendo filho de Francisco Velho e Dulce de Castro Velho. Poeta boêmio nunca teve ocupação certa. Foi um dos mais populares da geração literária de seu tempo em Porto Alegre. Faleceu em Porto Alegre, capital gaúcha, no dia 06 de setembro de 1919.

Bibliografia: Ocasos, versos, Porto Alegre, Livraria Americana, 1906. 2a. Edição com acréscimos, póstuma, Porto Alegre, Globo, 1920. Inéditos e esparsos de Pedro Velho publicados por Walter Spalding...

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