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Saudação a Rafael Bán Jacobsen - José Moreira da Silva (12/11/2013)

12 de novembro de 2013


DISCURSO DE RECEPÇÃO
A RAFAEL BÁN JACOBSEN
 
 
Senhor Presidente Sérgio Augusto Pereira de Borja
E demais componentes da Mesa
Senhoras e Senhores Acadêmicos
Distinto Público
 
Na prática do ativismo cultural, frequentamos inúmeras academias de letras, grêmios literários, casas de poetas e associações ligadas às letras. Em determinadas oportunidades, não poucas, tínhamos o prazer de encontrar uma bióloga e professora muito gentil, entusiasmada com as coisas do mundo cultural e mais ainda com uma criatura – criança que, deduzindo de suas palavras, era uma espécie de gênio. A dita professora e bióloga é Alzira Dornelles Bán, e a genial criança é o nosso agora recipiendário Rafael Bán Jacobsen, seu estimado, badalado, louvadíssimo e muito amado neto.
Era emocionante ouvir Alzira Bán falando para o público sobre o menino Rafael: meu neto Rafael gosta muito de ler e escrever; meu neto Rafael está escrevendo um livro; o livro de Rafael foi premiado no Açorianos de Literatura; Rafael está escrevendo mais um livro, mais outro, mais outro... E haja prêmios à obra de Rafael.
Numa dessas noites maravilhosas em que o sonho e o amor se entrelaçam, numa reunião festiva do Instituto Cultural Português, chega Alzira Bán, com um brilho de estrela nos olhos e dá a grande notícia: meu neto Rafael passou no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vai estudar física. E continuou dando as notícias: ele foi aprovado, ele está fazendo pós-graduação em física nuclear, ele foi aprovado, ele é professor.
E o tempo correndo, e Alzira louvando o seu neto.
Eu, que não tive o prazer de conhecer minha avó, muitas vezes pensei: eu queria ter uma avó assim; eu me transformaria num grande balão, que, inflado pelas suas palavras de incentivo, voaria às paragens infinitas dos sonhos que tive e morreram por ausência de impulso.
Daí, tomei uma decisão: vou saber mais da vida daquela criança e da sua evolução na idade e no conhecimento. Comparecia sempre aos seus lançamentos de livros; lia os seus artigos de cunho científico ou não, em jornais literários e revistas; corria a ouvir as suas palestras e conferências e a deleitar-me com as suas interpretações ao piano. Convenci-me de que estávamos, de fato, diante de uma inteligência precoce e eu precisava dizer-lhe, também, palavras de incentivo.
Em um certo fim de tarde, Rafael fora palestrante no Grêmio Literário Castro Alves. Salão apinhado de gente. Durante a fala de Rafael, todos estavam muito atentos, não se ouvia nem um respirar profundo, nem o zunido de uma mosca. Terminada a palestra, dada a palavra aos circunstantes, eu disse a Rafael: tu serás um grande das ciências e das letras. Estava dizendo o óbvio, porque grande ele já era, apesar da juventude.
 
Senhores e Senhoras
Colenda assembleia de amantes das letras
Não há satisfação maior do que ter a semente na mão, vê-la plantada em terra fértil, para brotar viçosa, estender raízes que vão buscar as substâncias necessárias à formação da árvore: caule ereto para o alto, ramagem, folhas, fronde e frutos. Eis o que foi semente (Rafael), originário de uma família de estudiosos, impregnado do gene do saber. Como produto do meio, cresceu árvore frondosa, numa casa onde havia e há mais livros do que tijolos. Bafejado pela sabedoria, cedo, alcançou os degraus das belas letras, da ciência e da arte poética e musical.
Por isso que Rafael chega à Academia Rio-Grandense de Letras, para ocupar a Cadeira nº 29, patronímica de José Carlos de Sousa Lobo, na primavera da vida, aos 32 anos de idade.
Por que essa precocidade toda?
 
Vejamos:
Em 25 de abril de 2003, no Salão de Atos da UFRGS, colou grau de bacharel em Física e foi orador da turma de formandos. Acrescente-se que fora classificado no vestibular em primeiro lugar.
Seguiu o curso de Mestrado em Física na mesma instituição, apresentando a sua dissertação com êxito. Na pesquisa, concentra seu interesse na área de Física Nuclear e de Partículas, com especial atuação na Astrofísica Nuclear. Daí em diante participa de congressos e encontros científicos, em vários estados do Brasil e do exterior. Culmina aprovado, em 2010, em concurso público, para atuar como físico na UFRGS. Aprovado, aqui, em primeiro lugar.
Até aqui, Rafael parece um colecionador de primeiros lugares, disputando sempre com milhares de candidatos.
Recordo-me de que, há mais ou menos 23 anos, a sua avó, Alzira Bán apareceu com uma grande novidade: meu neto Rafael tem nove anos e está estudando música. O tempo passou. Em 1998, a avó coruja vibrou no ar a notícia: meu neto Rafael graduou-se em Teoria e Solfejo pelo Instituto Verdi. E já me fui eu a assistir o Rafael em vários saraus no Salão Mourisco da Biblioteca Pública do Estado. E Rafael ingressa no curso de Harmonia e Improvisação na Ordem dos Músicos do Brasil, entidade da qual se torna sócio como pianista profissional.
Paralelamente a tudo isso, desde os treze anos, enfilera-se pelas trilhas da literatura:
Em 1997, publica Tempos & Costumes, com duas novelas: A segunda visão e Auroras da vida, obra que recebeu o prêmio Açorianos de Destaque em Narrativa Longa em 1998.
Em 2005, lança o seu primeiro romance, Solenar e, novamente vence o prêmio Açorianos de Literatura, na categoria Narrativa Longa.
Em 2009, com apresentação de Léa Masina e Moacyr Scliar, lança sua mais festejada obra Uma leve simetria, que foi finalista no Prêmio Açorianos de Literatura 2009, na categoria Narrativa Longa, e também finalista no Prêmio Livro do Ano, da Associação Gaúcha de Escritores. Texto delicado e sensível, que tem como tema central o amor entre Daniel e Pedro, nascido à sombra da sinagoga e que se desenvolve numa comunidade judaica. Tema atualíssimo, no qual, o que interessa ao leitor é o desenvolvimento dos conflitos e das relações humanas.
Em 2012 publica Caligrafia do espanto, livreto, pela Não Editora. E o projeto do seu terceiro romance, Imemorial das pedras, foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária. Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa, espécie de desconstrução da conhecida lenda do Judeu Errante.
Ainda: integra a comissão editorial da revista eletrônica WebMosaica, publicação semestral de estudos judaicos do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall em parceria com a UFRGS; publica na Revista Caosótica, desde 2005, matérias de cunho científico e literário e colabora no jornal RSLetras; faz parte de várias instituições culturais; tem publicações em 43 antologias e coletâneas, 43 Revistas, 74 títulos publicados em jornal (inclusive no jornal Zero Hora).
 
TRABALHOS CIENTÍFICOS:
Produziu, até então, 16 trabalhos científicos, no ramo de suas especialidades.
 
PRÊMIOS E DISTINÇÕES:
Conquistou 24 principais prêmios nas áreas literária, cultural e filosófica.
 
FORTUNA CRÍTICA
Sua fortuna crítica avulta pelo relevo dos que expressamente julgaram suas obras, dentre os quais destacam-se: Antonio Carlos Secchin, Arnaldo Niskier, Murilo Melo Filho, Léa Mansina, Carlos Jorge Appel e Ruy Carlos Ostermann.
O seu último romance, Uma leve simetria, mereceu loas de Ana Mariano, Fernando Cacciatore de Garcia, Carlos André Moreira, Ivanise Mantovani, Tulio Milman, José Neistein, Otto Leopoldo Winck e Regina Igel. Moacyr Scliar, titular de Cadeira na Academia Brasileira de Letras, teceu os seguintes louvores:
“Uma leve simetria revela-se uma grata surpresa. Com grande sensibilidade e não menor talento literário, Rafael Bán Jacobsen narra-nos uma história que, tendo como moldura a vida comunitária judaica com seus costumes e suas tradições, representa, contudo, um verdadeiro mergulho na condição humana – uma obra que, desde já, consagra o seu autor com um importante nome na nova geração de escritores brasileiros.”
 
FINALIZANDO:
         Assim, Alzira Bán tem mais para louvar o seu amado neto: saibam todos que meu neto Rafael chegou à Academia Rio-Grandense de Letras. E eu fazendo coro com ela: chegou por justo merecimento, pelo valor pessoal e de suas obras, após satisfazer todos os pressupostos estatutários. Primeiro – o ofício dirigido ao Presidente da Academia, para a inscrição como candidato a uma Cadeira; segundo: o resumo de suas atividades literárias, dos dados biográficos e um exemplar de cada trabalho publicado foram submetidos ao parecer da Comissão de Sindicância e Crítica, que o declarou apto a concorrer à eleição; terceiro: submeteu-se a uma entrevista com os membros da Diretoria da Academia, quando foi sabatinado oralmente e aprovado por unanimidade. Então veio o quarto e último pré-requisito: convocada a assembleia geral de todos os acadêmicos, Rafael Bán Jacobsen foi, finalmente eleito.
 
E agora, José?
Agora é participar, empunhar o cetro da imortalidade e conduzi-lo à posição mais alta do pódio da literatura e escrever, escrever, escrever... Sempre e com muita persistência, porque a passagem do intelectual pela vida é efêmera, e a glória se alcançará pela obra; os acadêmicos passarão, mas a obra continuará pela sucessão de gerações.
Rafael Bán Jacobsen, é um prazer e uma grande honra tê-lo entre nós; venha, sente-se, a Cadeira de número 29 é sua, este sentimento já estava manifesto na Casa desde quando fora por ela votado e eleito.
 
 
Porto Alegre, 12 de Novembro de 2013

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 37

Felipe de Oliveira

Felipe Daudt d'Oliveira nasceu em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 23 de agosto de 1890, filho de Felipe Alves d'Oliveira e Adelaida Daudt d'Oliveira. Cursou o ensino primário em Santa Maria e o secundário na Escola Brasileira em Porto Alegre. Frequentou a Faculdade de Medicina de Porto Alegre, onde concluiu o curso de Química.

Foi redator de O Combatente de Santa Maria em 1908, de O País do Rio de Janeiro, a partir de 1922, e, depois, da Gazeta de Notíciase da Revista Fon-Fon. Desenvolveu no Rio de Janeiro a atividade...

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