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Saudação a Zélia Dendena A. Sampaio - J. Francelino de Araújo (23/10/2007)

23 de outubro de 2007

      Senhor presidente, senhoras e senhores acadêmicos, senhoras e senhores representantes das Associações literárias, presentes ou repre­sentadas, por determinação do Senhor Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras, tenho a honra de saudar a recipiendária, Pro­fessora Zélia Helena Dendena Arnaud Sampaio, por ocasião de sua entrada triunfal neste Sodalício, como uma de nossas confreiras.
       Professora Zélia, estais no Átrio deste templo das belas letras. Tem­plo que em seus 106 anos de longevidade viu passar por suas cátedras os grandes nomes do saber literário do Rio Grande do Sul.
       Segundo o Filho do Homem: "Grande é a messe, poucos os traba­lhadores"; apenas 40! Na tradição das Academias, lembramos os Jar­dins de Academus, na Grécia, a Crusca modelo inicial da Academia italiana, e, em homenagem à Academia Francesa e à Academia Brasi­leira de Letras, mantemos das notáveis Academias que antecederam à nossa, o número de quarenta membros efetivos, cada qual ocupando uma cadeira de seu patrono.
       Esses 40 literatos pro-homens desta Academia são, como que, o sustentáculo deste belíssimo edifício das belas letras do Rio Grande do Sul e do Brasil. Rendemos nosso preito ao patrono da cadeira nº 1, Manoel de Araújo Porto Alegre, como o fazemos em relação a Car­los Von Koseritz, Felix da Cunha, Gaspar Silveira Martins, Apolinário Porto Alegre, Ramiz Galvão, Aquiles Porto Alegre, Fontoura Xavier, Arthur Pinto da Rocha, Alfredo Varela, João Cezimbra Jacques, Ca­deira 19, que tenho a honra de ocupar, Caldas Junior, Cadeira 23, que será vossa, após a investidura desta noite; Zeferino Brasil, João Belém, Paulino de Azurenha, Fernando Osório Filho, Roque Calage, Lindolfo Collor, e Alceu Wamosy, Patrono da Cadeira 40 e tantos outros, cujos nomes engalanam os recantos mais cultos e sublimes da Academia Rio-Grandense de Letras.
       Vós, professora Zélia Helena Dendena ao ingressardes nesta Aca­demia, assumireis os ônus e os bonos de todos os acadêmicos Tendes como direitos: I- Tomar parte nas sessões do Sodalício; II- Usufruir de todas as regalias inerentes ao Acadêmico; III- Exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido. Votar e ser votada, exceto no caso de descumprimento dos Estatutos.
       Deveis cumprir as seguintes obrigações a partir da solenidade des­ta posse acadêmica: Comparecer às sessões da Academia; Efetuar com pontualidade o adimplemento da anuidade; Editar o discurso de posse acompanhado do texto do acadêmico que vos saudou nesta cerimônia de investidura; Cumprir fielmente o Estatuto e o Regimento Interno, bem como as decisões da Diretoria e da Assembléia Geral; prestigiar a Instituição, concorrendo para seu fortalecimento moral e material; Zelar pelos bens e interesses da Academia;
       O comparecimento às sessões administrativas semanais, e as As­sembléias Gerais, ordinárias e extraordinárias, bem como ao Ciclo das Conferências realizadas, mensalmente, neste Solar dos Câmara. Além de constituir-se em direito é um dever do Acadêmico comparecer a esses intercâmbios de idéias, esses encontros lítero-culturais, pois eles fazem parte integrante da sinergia que devemos produzir no esforço conjunto, para que haja maior vigor nas funções do Sodalício.
       Cabe à nossa Academia, Zélia Helena Dendena, precipuamente, sob o signo "VITAM IMPENDERE VERO", que significa consagrar a vida à verdade, sem cor político-partidária, proceder ao estudo e le­vantamento vocabular do idioma português falado no Rio Grande do Sul, de modo especial em seu aspecto paradialetal de cunho regional ou gauchesco: propugnar por pesquisas e medidas que asseguram o fortalecimento e a expansão da cultura gaúcha; cultuar e promover a memória, a vida e a obra dos escritores gaúchos vinculados à Aca­demia Rio-Grandense de Letras, tornando-a sempre mais conhecida, para o que coligirá todos os dados bibliográficos e o acervo autoral de cada Acadêmico; estimular as belas letras, de per si ou mediante convê­nio com outras entidades, instituindo concurso e troféus.
       Colaborar com o Poder Público, em tudo quanto harmonizar-se com o desenvolvimento cultural do Estado; manter intercâmbio com as congêneres e similares, em âmbito nacional e internacional.
       Como escritores produzimos livros. Sobre a magia do livro en­tre outros excertos, disse Martin Claret, no prefácio da obra de Augus­to dos Anjos: "EU E OUTRAS POESIAS":
A história do livro confunde-se, em muitos aspectos, com a história da humanidade. Sempre que escolhem frases e temas, e transmitem idéias e conceitos, os escritores estão elegendo o que consideram significativo nomomento histórico e cultural que vivem. E, assim, fornecem dados para análise de sua sociedade. O conteúdo do livro - aceito, discutido ou refutadosocialmente - integra a estrutura intelectual dos grupos sócias.
       Acadêmica Zélia Helena Dendena, vós que nascestes em 5 de abril de 1928, na belíssima cidade serrana de Bento Gonçalves, trazeis nas veias o cálido sangue bravo da velha Itália, como filha de Serafino Dendena e Elvira Romagna. Neta de Michele Dendena, Dozolina Vika-ri, Matio Romagna e Margherita Capelli.
       Em agosto de 1979 casastes com o ilustre escritor indianista e poli­glota, Mario Arnaud Sampaio, com quem vivestes grandes e proveito­sos anos de vossa vida.
       Valho-me desta ocasião ímpar para lembrar a novel acadêmica, um excerto da crônica feita pela jornalista Rafaela Fernandes, sobre Mário Arnaud Sampaio, vosso pranteado esposo.
Disse a jornalista:
"O queixo em riste, os ombros retos a silhueta elegante transpiravam a nobreza que não vinha do acaso e vem da vida vivida com generosidade sabedoria e desprendimento. O olhar era doce, risonho, expressão da natu­reza gentil de Mario Arnaud Sampaio; indigenista,poliglota, escritor, cujo centenário de nascimento deu-se no dia 28 de setembro de 2002. Arnaud Sampaio é nome de rua em Porto Alegre e Viamão. Sua trajetória começapela Bahia, passa por Alagoas, Rio de Janeiro e cria raízes no Rio Grande do Sul, onde se estabelece em 1923, como sua terra de eleição".
       Senhor Presidente, senhores Acadêmicos e gentil auditório, ve­des que a serra onde se localiza Bento Gonçalves e o Vale dos Vi­nhedos, não produz apenas belas safras de vinhos, do melhor vinho gaúcho e brasileiro, também produziu e nos mandou como uma líder e representante da encantadora região serrana, Zélia Helena Dendena.
       Vós, Acadêmica Zélia, a partir deste momento, ao transpordes o pórtico deste templo das belas letras Rio Grandense; sois, não apenas uma bento gonçalvense, mas uma gaúcha de todos os rincões, posto que a Academia Rio Grandense de Letras tem abrangência em todo Es­tado do Rio Grande do Sul e por via de consequência seus acadêmicos.
       A Academia Rio-Grandense de Letras não pertence a um determi­nado município ou a uma Região geográfica estadual. Ela pertence a todo Estado, daí a abrangência do nosso Sodalício!
       A recipiendária possui formação profissional de escol. Dedicou-se ao magistério onde ensinou Inglês, História, Psicologia e Filosofia. Foi diretora de estabelecimento de ensino e especialista em Supervisão Es­colar, licenciada pela UFRGS em Filosofia. Em nível de pós-graduação especializou-se em Administração de Sistemas Educacionais em 1984; Psicopedagogia da PUC em 1991; Gerontología Social na Faculdade de Serviços Sociais da PUC em 2001; preparação de Supervisores de Es­tágio para Prática de Ensino; Teoria do Conhecimento e Técnicas Psi­cológicas; Princípios de Orientação Educacional na UFRGS em 1970; participou da equipe interdisciplinar da escola da PUC.
       Ainda na área magisterial fostes professora uni-docente da Es­cola Marcilio Dias; de Bento Gonçalves; Secretária de Escola Ginásio Monsenhor Escalabrini, em Guaporé. Lecionou inglês em ginásios de Farroupilha, Casca e Charqueadas. Como professora de História em várias escolas do interior do Estado, semeou conhecimentos, passando como um cometa a iluminar os caminhos da cultura sobre a juventude daquelas cidades.
       Ainda na área educativa fostes supervisora integrante do Grupo Fun­cional de Ativação e Avaliação, da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul; coordenadora pedagógica do Instituto Vicente Pallotti de Porto Alegre; coordenadora pedagógica do Grupo Escolar Paula Soares; Secre­tária adjunta à Coordenação dos cursos do Convenio PREMEM, UFRGS e Secretaria de Educação; orientadora do Curso de Madureza Ginasial, transmitido pela TV Difusora Canal 10 e TV Educativa da SEC em duas edições, nas penitenciárias do Jacuí, Charqueadas e no Presídio Central de Porto Alegre, onde estruturou "O Centro de Valorização Humana".
       Vosso labor no magistério foi incansável e extraordinário. Com­preende-se com facilidade o esforço que desenvolvestes para atingir as culminâncias deste belo trabalho educativo. Vós, na área educacional, fostes qual uma Atalaia a balizar os caminhos da educação e um farol a iluminar as mentes daqueles milhares de jovens que passaram pelos vossos ensinamentos.
       Já dissera eu aos meus alunos bacharelandos de Direito, na PUC, na ULBRA e na UNIRITTER, nos 22 anos de magistério em que tive a alegria de exercer este sagrado dom concedido por aquele de onde viemos e, para onde, um dia voltaremos:
ê somente tentar colocar na cabeça dos alunos o conhecimento Ensinar não que tem da matéria, o professor; ao contrário, é retirar da faculdade mentaldos jovens a capacidade que eles têm de inteligir a matéria versada pelos bons professores e nessa reciprocidade forma-se o liame do saber. Vós, Pro­fessora Zélia, exercestes esse sagrado mister com todos os louvores que se pode outorgar a um magister.
       Na área literária tivestes notória repercussão, com vários trabalhos de abrangência cultural, não só com a publicação de artigos em peri­ódicos e revistas especializadas, também na publicação de livros de poemas como está escrito na Revista MOSAICOS, em prosa e verso, da União Brasileira de Escritores, em 2002. Escrevestes "Dilema do Ensi-nante" publicação da Sagra Luzzatto com apoio do Ministério da Cul­tura. Escrevestes ainda "Tiradas de Ocasião", "Animadores do Reino", Prosa e Verso publicação da Editora Sagra Luzzatto e "Relâmpagos", publicada da Revista da UBE/RS 2006.
       Vossa literatura é abrangente em todos os sentidos das belas letras e fica valendo ressaltar que, só em publicações compartilhadas com outros autores escrevestes mais de 35 trabalhos em co-autoria com Bar­bosa, Sueny, Tancine e Assunta.
       Escrevestes "Alternativa Metodológica" para operacionar super­visão pedagógica num sistema de ensino, nº I Seminário de Supervi­são Pedagógica, em Brasília. Na Revista Educação da PUC Rio Grande do Sul publicastes "Estruturas Curriculares: Vasos Comunicantes ou Compartimentos Estanques ?" Enfim, só em obra não literárias escre­vestes mais de 19 trabalhos.
       Por vossa enciclopédica cultura recebestes vários prêmios e distin­ções em concursos literários nos quais participastes: Menção Honrosa pelo conjunto de poemas; Honra ao Mérito pelo poema "Introspec-ção"; Certificado Especial de Placa Alusiva à Classificação para o 7D Concurso Nacional de Poesia Internacional, em março de 1994;
       Diploma de Menção Especial no "Mutirão de Poesia", de 1997; pelo poema "Pipoqueiro", na Antologia dos Vencedores de 1997; Men­ção Honrosa do "III Concurso para Poetas da Terceira Idade", 1997; Diploma Destaque no "XVII Concurso Nacional de Poesia" pela Re­vista Brasília, com o poema "Convite à Vida", em 1996. Além desses prêmios, recebestes outros tantos que não cabem mencionados em dis­curso de saudação, eis suficiente o que foi revelado como prova de uma intelectualidade vigorosa.
       Apesar do rigor da vossa pena e do vosso texto, encontrais mo­mentos de amor materno para dizerdes os versos do poema "Mãe" Revista da União Brasileira de Escritores, 11a Antologia, cujas estrofes lembram o vôo do pássaro, cuja asa, cortando rente o vento, encanta o observador pela beleza do equilíbrio entre a ave e a natureza. Vossa poesia é o vôo dessa ave!
Peço vênia para dizer o poema:
Misteriosa fagueira
papeleira matreira
Porta da vida
a mostra do tudo
dona do nada
Branca rosada
Negra, morena,
pé de boi laranjeira
roda faceira no seu quintal
Carvão em brasa
pão na mesa
de dia ativa
de noite cativa
brinca e chora como a realeza
da mística aurora.
       Por esta mostra que acabamos de conhecer da vossa bela imagem cultural da vossa literatura, e da vossa gentil figura humana digna e respeitada, podemos imaginar a travessia que fizestes, no barco dos sonhos, que vos levou a navegar o intrincado e imenso oceano das le­tras para vos tornardes a escritora correta, a poetisa sensível da palavra enxuta, espartana, a espargir miríades luminosas sobre as ondas das águas singradas pelo vosso belo e amoroso barco, na busca incessante do abrigo dos sonhos, do Porto Seguro que é, sem dúvida, a Academia Rio-Grandense de Letras. Aqui tereis abrigo, segurança e proteção, para sonhar com muitos.
       Dizia o Santo homem, Dom Helder Câmara, a respeito do sonho, em suas prédicas, dominicais, na Igreja do Largo do Machado, no Rio de Janeiro, cujas missas, das 10 eu não perdia, apesar de jovem e das belezas que a Cidade Maravilhosa, oferecia para nos tirar do caminho. 
Dizia Dom Helder:
Um sonho sonhado só,
é só um sonho.
Um sonho sonhado com muitos
é o começo da realidade
       Agora, novel Acadêmica, ides sonhar com muitos!
    Por derradeiro, sobre o trabalho dos poetas, podemos, com LUCANO, proclamar aos céus:
Oh! Trabalho sagrado dos poetas! Tu arrancas todas as coisas ao destino, Tu dás imortalidade aos povos mortais.
       Senhor Presidente
    Em nome da Academia Rio-Grandense de Letras e no meu próprio nome concluo esta saudação, dizendo:
       Nobre acadêmica Zélia Helena Dendena 
       Sede bem vinda ao nosso convívio. 
       Disse.

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 17

Timóteo de Faria Corrêa

Timóteo de Faria Corrêa Filho nasceu em São Gabriel, região da campanha rio-grandense, em 08 de novembro de 1861, filho de Timóteo de Faria Corrêa e Cândida Martins de Faria Corrêa. Estudou na Escola de Guerra de Porto Alegre. Sentou praça em 1876 e saiu alferes-aluno em 1884. Foi Oficial do Exército, chegando ao posto de Capitão de Arma e Artilharia em 1890. Poeta, Timóteo Faria Corrêa assinava às vezes Timóteo Filho.

Publicou versos esparsos em revistas e jornais de seu tempo. Vale destacar seu discurso na 11ª Sessão...

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